O traçado do TGV previsto para a região da Bairrada é tudo menos consensual. Os receios são tantos que a Comissão Vitivinícola da Bairrada (CVB) já escreveu a Jaime Silva, ministro da Agricultura, solicitando a intervenção daquele membro do Governo por forma a que sejam reduzidos "os impactos negativos" de tal traçado, numa região cujo potencial de desenvolvimento, a Comissão considera ser "tão gravemente afectado". Na missiva enviada a 20 de Fevereiro, a CVB alerta para as medidas preventivas do traçado do TGV, no atravessamento da região demarcada da Bairrada. Um traçado que submete a faixa de servidão (entre Pombal e Oliveira do Bairro) a medidas preventivas gravosas. "Verificamos que o atravessamento das duas alternativas de traçado se sobrepõem de modo particularmente gravoso em parte da região ", refere a CVB. Num alerta à tutela, a CVB sublinha também que as alternativas praticamente coincidem na zona situada entre as localidades de S.Lourenço do Bairro e Óis do Bairro, em que deverão ser afectadas áreas de vinha contínua, recentemente plantada, por empresas produtoras de vinho de referência nacional e internacional. Além do mais, diz a CVB, "trata-se de uma zona de paisagem de vinha das mais qualificadas do país, onde estão a laborar diversos empreendimentos com vocação para o enoturismo e já com sucesso amplamente reconhecido no mercado". Segundo JB apurou, a Comissão Vitivinícola da Bairrada também já escreveu às Câmaras de Anadia, Oliveira do Bairro, Mealhada e Cantanhede no sentido de obter também um parecer destas referente às possíveis alternativas que possam ser menos gravosas para esta região demarcada. Deputado indignado. Mas, nem só a CVB está preocupada. Recorde-se que já em Fevereiro passado, o deputado José Manuel Ribeiro, preocupado com o impacto negativo que o traçado do TGV, no concelho, questionou o Governo sobre o mesmo que, na sua opinião acarretará, para o município, consequências gravosas. No requerimento, dirigido ao ministro das Obras Públicas, o deputado anadiense mostrava-se apreensivo com o traçado e com os "corredores" apresentados, que "passam à tangente", junto de várias localidades, tais como Tamengos, Curia, Horta, Ribafornos, Óis do Bairro, São Lourenço do Bairro e Ancas. Um corredor que, a existir, na sua opinião retirará qualidade de vida aos munícipes, destruindo várias dezenas de hectares de vinhedo e aniquilando uma das maiores riquezas da região. Autarcas repudiam traçado. Um "atentado", afirmam também os autarcas das freguesias de Ancas e de S.Lourenço do Bairro. Daí que Arménio Cerca, presidente da Junta de Ancas tenha, assim que soube das medidas preventivas, reunido o executivo a fim de analisar o corredor por onde supostamente irá ser construído o traçado do TGV. Para já, elaboraram uma exposição que será enviada às entidades competentes (Ministério dos Transportes e Comunicações, REFER, e CCDR Centro), dando conta do descontentamento, pelo corredor aprovado, mas também das preocupações e limitações que, numa primeira fase, essas medidas preventivas implicam, condicionando o desenvolvimento da freguesia. O autarca adianta ainda que as medidas preventivas "poderão ter um impacto negativo devastador, na qualidade de vida da população". Por isso, conclui que "se há alguns anos, no norte do país, se gastaram milhões de euros para proteger uma colónia de meia dúzia de ratos, vamos ter esperança que um traçado que poderá eliminar nascentes de água potável (onde toda a população se abastece), uma zona paisagística, uma lagoa natural onde habitam espécies em vias de extinção (cágados, garças) e que coloca igualmente em risco várias habitações da freguesia, assim como atravessa uma grande área de vinha (que produz os melhores vinhos da Bairrada), sejam motivos suficientes para ponderarem seriamente uma alternativa ao actual traçado". Quem comunga da mesma opinião é Leonildo Macedo, presidente da Junta de S.Lourenço do Bairro. A JB acrescentou que dentro de dias este assunto será igualmente discutido em Assembleia de Freguesia, para então se decidir o que fazer. Resta-lhe a esperança de que as eleições legislativas permitam colocar termo ao projecto. Catarina Cerca catarina@jb.pt |