A fractura no seio da família PSD de Anadia é cada vez mais visível e, com o aproximar das eleições para a Comissão Política Concelhia (CPC), marcadas para 1 de Dezembro, o duelo revela as duas personagens principais: de um lado Litério Marques, presidente da Câmara e da CPC de Anadia, do outro José Manuel Ribeiro, presidente da Assembleia Municipal e da Mesa da Assembleia da CPC. Litério critica agora abertamente Ribeiro e este último, que tem o apoio da JSD, já não aparece, lado a lado, com o autarca nas mais diversas actividades.

Entre ambos está o processo da tentativa de inscrição de 182 militantes na concelhia por parte do autarca, que o Conselho Jurisdicional do partido já rejeitou. E do qual Litério Marques deve recorrer.

O Conselho de Jurisdição do PSD rejeitou mesmo os 182 militantes propostos, em 4 de Junho, por Litério Marques. Num despacho assinado pelo secretário geral do Partido, Luís Marques Guedes, datado de 6 de Outubro, o PSD entende "recusar a admissão dos 182 militantes por se entender não estar cumprido o requisito da sua aprovação pela Comissão Política da Secção". O Conselho dá assim razão aos opositores de Litério Marques, nomeadamente ao líder da JSD, Pedro Esteves, autor de uma carta enviada à presidente do partido, Manuela Ferreira Leite, denunciando que a acta enviada pelo presidente da CPC, Litério Marques, aos orgãos nacionais não corresponderia à verdade. Nesta, o presidente considerava os 182 militantes aprovados pela maioria dos 11 membros que integraram a reunião, mas, feitas as averiguações pelo Conselho Jurisdicional Distrital, o resultado terá sido mesmo o chumbo dos militantes. Ainda assim, ao JB, Litério Marques confirmou saber já do resultado do processo, mas garantiu avançar com um recurso à decisão que, assegura, está longe de ter carácter definitivo.

Eleições a 1 de Dezembro. Se até agora o diferendo entre Litério e Ribeiro estava de alguma forma velado, ontem o autarca de Anadia falou abertamente contra o presidente da Assembleia Municipal. Litério Marques critica o facto de José Manuel Ribeiro ter "antecipado as eleições na concelhia para 1 de Dezembro, impossibilitando os 182 militantes de poderem votar, por apenas dois ou três dias", afirmou ao JB, explicando que, a ser validada a inscrição dos militantes, estes só poderiam votar com seis meses de inscrição, a partir de 4 de Dezembro.

"A justificação é a de que o presidente da Mesa não está disponível em outras datas, o que me parece uma manobra para um PSD que quer continuar blindado", afirma Litério Marques.

Por seu turno, os argumentos de José Manuel Ribeiro, que emitiu ontem, ao início da tarde, um comunicado, são os de que a data mereceu concordância de quase todos os membros da CPC e a unanimidade da Mesa da Assembleia de Secção. Diz ainda que esperou o fim do processo do Conselho de Jurisdição e que o resultado impossibilita os novos militantes de votarem.

A recusa de admissão dos militantes implica a admissão de que a acta enviada por Litério Marques não correspondia à verdade da reunião, o que pode originar um processo disciplinar ao ainda presidente da CPC. Este pode ser solicitado por qualquer militante e, ao que o JB apurou, há quem equacione mesmo avançar por esta via.

Candidatos. Com a data definida, depois da candidatura de Vera Ladeira (ver página 6), outros candidatos devem avançar nos próximos 15 dias. Há rumores de que Lígia Seabra pode ser candidata, mas, ao JB, a advogada preferiu não comentar a hipótese.

Tânia Moita

tania@jb.pt