Revoltado com a política da Educação da Ministra Maria de Lurdes Rodrigues, António Morais, professor de Matemática na EB Integrada do Eixo (Aveiro) decidiu aventurar-se e unir Melgaço (Minho) a Vila Real de Santo António (Algarve) durante o seu mês de férias, protestando contra o que diz ser uma série de injustiças e atropelos à classe. A iniciativa, intitulada "No trilho da esperança", passou, na última sexta-feira, pela EB 2/3 de Vilarinho do Bairro, local onde o professor António Morais leccionou entre 1994/95, rumando em seguida em direcção a Coimbra e Leiria. Com 406 quilómetros percorridos e muitas dores no corpo, reconhece que o pior ainda está para vir - completar os cerca de 600 quilómetros que faltam e atravessar a vasta região do Alentejo. "Quando me propus a isto achei que dificilmente iria conseguir chegar ao final, até porque não praticava desporto", disse, reconhecendo agora que o sacrifício está a valer a pena e que serve para alertar a tutela de que, "mesmo em férias, os professores não dormem". Confirmou, contudo, que os docentes andam desmotivados por causa das "coisas horríveis que a ministra tem dito e feito", muito embora sejam "uma classe muito boa e empenhada". Motivação. Esta acção, que já vai na terceira semana, visa mostrar a unidade dos professores contra a política educativa do Governo, alertando a opinião pública e mantendo acesa a pressão sobre o Governo a propósito das condições de vida e de exercício profissional dos professores e educadores. Em causa está "o isolamento em que os professores exercem a sua profissão, as distâncias que são obrigados a percorrer e o consequente afastamento da família e amigos, o aumento do custo de vida, despesas com transportes e segundas habitações a que estão sujeitos por força das colocações", entre muitas outras. "Uma das razões que me motiva foi o desrespeito total da tutela pela classe. Esse foi o combustível e é ânimo para esta viagem", disse revelando ainda que, por dia, percorre uma média de 60 quilómetros. António Morais não deixa de sublinhar também o apoio logístico prestado pelos colegas dos sindicatos da FENPROF que lhe dão dormida e alimentação. "Têm sido todos muito simpáticos e tenho sido acompanhado de carro, embora, até ao momento, não tinha tido qualquer problema". Em todas as escolas por onde vai passando nesta sua cruzada o docente deixa uma mensagem de solidariedade aos colegas bem como um cartaz alusivo à iniciativa. "Sei que este tipo de iniciativa teria outra visibilidade se fosse feita em período de aulas mas eu não poderia deixar os meus alunos sem aulas para realizar este protesto", sublinhou. O docente, que tem raízes em Fermentelos, já pertenceu à Companhia de Teatro Viv’Arte, de Olivera do Bairro, de que guarda boas recordações. "Foi uma experiência muito boa e enriquecedora. Aprendi muitas coisas com eles. Continuo hoje a fazer teatro de rua graças a eles", concluiu.Catarina Cerca catarina@jb.pt |