"A arte saiu à rua num dia assim..." , em que a Expo Zaragoza 2008 foi inteiramente dedicada a Portugal. Na sexta, dia 11, entre Zés Pereiras, cabeçudos e gigantones, por entre concertos de sonantes nomes nacionais (como Maria João, Mário Laginha e Dulce Pontes), uma ave, de porte superior a cinco metros de altura, colorida e dinâmica, desfilava pelas ruas e fazia parar a multidão. Parar, "como quem diz". Os pés mexiam-se ao ritmo da música, a cabeça, girava a cada movimento auspicioso de músicos e actores e os olhos brilhavam como quem confirma a vontade inequívoca de partilhar, com aquele "ser raro", o desejo de voar. E tem nome este voo: Golpe d’Asa. Descolou de Tondela, o ninho de formação, na terça-feira passada (8 de Julho). Levou consigo dois actores (Ilda Teixeira e Ruy Malheiro), um técnico/ condutor/ actor (Cajó Viegas), um manobrador/ actor (Pompeu José), oito músicos (Fanfarra Kaustika) e durante quatro dias (de sexta a segunda-feira) cativou todas as atenções na exposição espanhola. Segundo Tela Leão, programadora cultural do pavilhão de Portugal, a explicação não reside só "no tamanho do brinquedo tradicional agigantado" como também no impacto que cria a música, que "é genial e muito alegre". "É impressionante como conseguem encher o espaço todo com as sonoridades que tocam e embora, estejam sempre em movimento e distantes uns dos outros, tudo soa perfeito e ainda por cima ouve-se a muita distância". Fanfarra Kaustika. Da autoria de Fran Pérez, a música, essa "mistura de ritmos do mundo", foi interpretada por músicos de Águeda. Acompanhar e integrar a viagem multicultural deste "bichinho álacre e sedento de focinho pontiagudo", garantem, é uma experiência "simplesmente fantástica". "Por uns dias, para além de músicos virámos actores e logo de uma produção com tanta qualidade e que envolve a assistência", contou ao Jornal da Bairrada, Bruno Abel, saxofonista da Fanfarra Kaustika. Quanto ao encarnar um personagem, Tito Oliveira, tubista da formação, assume que "não é tarefa fácil", mas "como o pássaro é que comanda a viagem, nós só temos de deixar-nos levar por ele e por aquilo que o público vai exigindo de nós". Muito mais habituado a representar está Pompeu José. Para o conhecido actor português, completar a máquina define-se num só adjectivo, "excepcional". "Ela interage perfeitamente com o público" e isso é, sem dúvida, sinónimo de "objectivo cumprido". Ao Jornal da Bairrada, Pedro Pais de Brito, responsável pela construção da ave - na Escola Superior de Tecnologia de Viseu (ESTV) - assume, com um sorriso, o orgulho na obra. "Estudar, planificar e executar levou na realidade muito tempo", mas a excelência está agora à vista e, segundo Pedro Pais de Brito, "assenta, essencialmente, na simplicidade". Maria Perez é de Saragoça e durante três dias visitou a feira. Não ficou indiferente "à máquina". "Nunca tinha visto nada do género. Está genial", conta. Também Enma Garcia foi seguindo, até ao fim, todo o "voo da ave". "A música dá muita vontade de dançar. Traz muita alegria à Expo e sempre ajuda a fazer esquecer todo este calor", referiu, ao Jornal da Bairrada, a jovem madrilena. Satisfeito com a reacção do público em relação ao engenho cénico, estava também José Rui Martins, director artístico da ACERT - associação responsável pela criação e produção do Golpe D’Asa. Embora, com a modéstia que o caracteriza, José Rui Marins nunca tenha assumido que se trata de mais um projecto de sucesso - que conta, e muito, com o seu cunho pessoal - o sorriso que dava a cada nova actuação do Golpe d’Asa, deixava transparecer a felicidade do "criador". Futuros espectáculos. A seguinte aterragem deste "bichinho raro" é já no próximo mês de Agosto, na festa de encerramento do "Andanças", em São Pedro do Sul. No entanto, "como longa é a migração de qualquer ave que se preze", outras viagens se seguirão. Num levantar ligeiro da asa, o passáro revelou, a medo, que Hannover pode ser mesmo o próximo destino internacional.Salomé Castanheira scastanheira@jb.pt |