Depois dos muitos anos de ditadura soviética a Rússia libertou-se.

Com Ieltsine a Rússia viveu os dias gloriosos da liberdade e da democracia mas também o descalabro de um estado em decomposição, dilacerado pela corrupção, desemprego e especulação, ocupado pela ascensão de capitalistas sem regras e desprovidos de valores éticos e onde se vendeu ao desbarato o que restava do aparelho produtivo comunista.

Com Putin, a Rússia retomou o caminho da ordem, da recuperação económica e da modernização. A Rússia aproximou-se da Europa e impôs a sua voz nas mais importantes questões da cena mundial. Paulatinamente, Putin mostrou aos russos que poderiam voltar a acreditar no seu País, readquirindo a importância que teve no tempo dos sovietes, recuperando também o aparelho militar.

Mas a era Putin trouxe aos russos muitas dores de cabeça.

Transformou o seu partido numa máquina de influência pessoal com os tiques e práticas de um partido único, dando aos adversários apenas o palco suficiente para encenar uma espécie de democracia. Os russos protestaram, mas acabaram por se adaptar. Afinal, Putin conta com a ajuda da habituação e resignação da população a este tipo de regimes. Viveu-se assim na Rússia Czarista e nada mudou na antiga União Soviética. Nos mesmos Gulacs apodrecem agora os opositores do presidente e os serviços secretos mantêm a mesma eficácia na eliminação de jornalistas incómodos como Anna Politkovskaia ou opositores decididos como Alexander Litvinenko. O que parece pesar no pensamento do russo comum, mais do que os valores ocidentais da democracia e liberdade, é dinheiro no bolso, uma vida com menos máfias e um sentimento de poder recuperado da nostalgia soviética.