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30-01-2008

O serviço é genericamente bom e terá, como tudo na vida, falhas


Editorial - 112 um número ou um serviço?

O ministro da Saúde foi demitido depois de estar sob fogo cerrado.

Não bastava a contestação em Anadia e noutros concelhos portugueses, perante uma política que apenas vê números e ignora as pessoas doentes, apareceu agora outra complicação com os serviços de emergência médica.

O serviço é genericamente bom e terá, como tudo na vida, falhas, mas nós até temos, os necessários brandos costumes para as compreender e desculpar.

O que não se desculpam são as declarações de Correia de Campos defendendo a excelência do sistema e que Alijó foi uma falha fortuita. Devemos lembrar ao senhor ex-ministro que em Alijó e em muitos outros lugares de Portugal aquela falha será sempre sistemática, pois no interior, o serviço 112 apoia-se em estruturas benévolas e esforçadas, mas não profissionalizadas. Recordar-lhe também que os 30 km na linha de Cascais não são os mesmos 30 km em Trás-os-Montes, que o interior não tem apenas populações nas sedes dos concelhos e que os lugares distam muitos quilómetros dos centros urbanizados.

O senhor ex-ministro não percebeu que a diferenciação que faz das populações do interior e do litoral é quase a mesma que existe entre a Europa e a África. Mas, infelizmente, até no litoral, os tais 27minutos que Anadia dista de Coimbra são muito mais compridos na realidade, mesmo que percorridos numa ultra veloz ambulância.

Os problemas da saúde não se resolvem apenas com tecnologia, redução de custos, serviços de emergência e palavras duras na TV. O ex-ministro não percebeu que vive num país em que, para muitos desfavorecidos, o número 112 não passa disso mesmo: de um número. Não percebeu que a conversa que ouvimos na SIC não é uma comédia, é infelizmente uma realidade em muitos lugares.

Sócrates, que apoiava este ministro sem reservas, estava a deixar muitos portugueses para trás, assim como deixa imoralmente aumentar o fosso entre os ricos e os pobres.

Ainda bem que foi demitido.


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