O presidente da Câmara de Cantanhede vai enviar um documento ao ministro da Saúde, pedindo já, após três semanas de substituição do Serviço de Urgência do Hospital pela Consulta Não Programada, uma avaliação ao novo modelo de funcionamento. Menos comedidos, alguns membros da Assembleia Municipal, consideram já que foram enganados pela tutela. João Moura está preocupado com o impacto negativo nas consultas programadas, pelo facto dos médicos do Centro de Saúde estarem afectados à Consulta Não Programada e com o facto dos pacientes de Cantanhede, depois da passagem pelos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), serem internados em outras unidades que não o Hospital do Arcebispo João Crisóstomo. "(...) Têm -se levantado algumas questões em torno do eventual impacto negativo que a afectação de médicos e enfermeiros do Centro de Saúde de Cantanhede poderá ter nas Consultas Programadas que aí são realizadas diariamente. (...) Esta é uma situação que não pode ocorrer em nenhum circunstância", refere o documento que será enviado a Correia de Campos, exigindo, se necessário, o reforço do quadro clínico. Internamento em Cantanhede. No mesmo documento, o autarca afirma-se preocupado com o facto dos doentes do município que recorrem ao serviço de urgência dos HUC serem, posteriormente, internados numa qualquer unidade que não a de residência. "Não faz sentido que os doentes do concelho sejam transferidos para internamentos em unidades hospitalares de outros concelhos, não só pelo efeito psicológico negativo que isso poderá provocar, mas também pelas dificuldades que se lavantariam no que diz respeito ao indispensável apoio da família". "Face a estas e outras preocupações, estamos empenhados em que se proceda, desde já, a uma avaliação do funcionamento do Serviço de Consulta Não Programada no Hospital de Cantanhede e das Consultas Programadas no Centro de Saúde", reitera João Moura, no documento lido à Assembleia Municipal. Urgências "pura e simplesmente acabaram". As palavras mais duras relativas à transformação da Urgência em Consulta Não Programada surgiram de Maia Gomes, ex-vereador da autarquia, membro da Assembleia Municipal e da Comissão de Acompanhamento, criada para a assinatura do protocolo com a Tutela. Maia Gomes disse mesmo que a mudança não está a decorrer conforme esperava. "O pressuposto que estava na origem das negociações e no protocolo não está a ser acautelado", referiu Maia Gomes. "Contrariamente ao que sempre foi discutido, as urgências não mudaram de nome. Pura e simplesmente encerraram. O que continua aberto é uma coisa que já existia no Centro de Saúde", afirmou. Maia Gomes questionou ainda a nova missão da unidade, direccionada para os Cuidados Continuados e Paliativos. "Interrogo-me se, com a nova missão, o hospital serve verdadeiramente as necessidades das populações do concelho. 80% das pessoas internadas não são do concelho", salientou. Quadro exagerado. Opinião contrária teve Dulce Santos, independente, eleita pelo PS, que considerou prematura a avaliação negativa. Comungando de algumas das preocupações, sublinhou, porém, que todas as questões referidas "foram debatidas muito antes da assinatura do protocolo". E considerou "exagerado que seja pintado um quadro tão negro", afirmando que não vê grandes diferenças entre o serviço prestado pelas urgências e pela consulta aberta. A deputada afirmou mesmo que as resistências dos médicos à mudança têm que ver com a perda do rendimento monetário adjacente ao funcionamento da Urgência. Tania Moita tania@jb.pt |