A importância da cidadania responsável é cada vez mais importante nos dias de hoje. Diria mesmo que para Portugal é decisiva.
Sempre foi a revolta popular, mesmo que contida durante muitos anos, que fez mudar a história. Nacionalmente, podemos relembrar a revolução de Abril que fez cair o já podre regime do Estado Novo, embora o tenha substituído inicialmente por tempos de atropelos à liberdade, difíceis de aceitar mas, cujo saldo é positivo. Internacionalmente, poderemos recordar a revolta popular que conduziu à implosão dos regimes opressivos do leste europeu e que teve como detonador a queda do muro de Berlim.
A indignação colectiva de hoje se bem que já não provoque revoluções como as de outrora, deve ter a saudável contrapartida de actuar como reguladora dos desmandos da democracia. As pequenas injustiças, as minúsculas prepotências, os negócios menos claros, devem ser objecto de fiscalização do cidadão comum. A democracia dá sinais preocupantes de cristalização e apenas a intervenção cívica responsável pode ultrapassar a inércia inquietante dos órgãos fiscalizadores quer do governo central quer do poder autárquico.
Vem isto a propósito de um assunto, que tenho referido nalguns editoriais e que se prende com a necessidade de transparência e equidade na governação. Exigir do governo que torne mais clara a sua administração, quando usa esquemas e estratagemas para desorçamentar e esconder "buracos financeiros" das empresas com capitais públicos, seus serviços públicos, das autarquias, enquanto, despudoradamente, identifica na internet os portugueses que não cumprem as suas obrigações fiscais. Corre por estes dias uma petição que desafia o Estado a publicar todas as suas dívidas. Um desafio de cidadania responsável é assiná-la.
Hoje, ao contrário de outros tempos, é impossível ocultar a informação como poderemos ver numa breve consulta pela internet e pelos blogs. Por isso, os cidadãos devem estar atentos e aceitar os reptos que vão aparecendo no sentido de tornar mais clara e próxima dos cidadãos a administração, forçando com os seus actos a uma governação mais democrática.