para captação de 1500 metros cúbicos de água diários do rio do Luso, que não é mais do que ribeira, foi a gota de água para as populações das freguesias do Luso, da Vacariça e da Pampilhosa. E também para o presidente da Câmara da Mealhada, Carlos Cabral, para os vereadores do PS e PSD, para o presidente da Junta de Turismo do Luso e para os presidentes de Junta que se juntaram ao povo para uma manifestação pacífica à porta da fábrica de azeite Alcides Branco, no último sábado. À questão da água somam-se os cheiros, e, segundo os manifestantes, a poluição da ribeira próxima da unidade. A administração respondeu com o convite - recusado - de visita às instalações e com mais uma promessa de que as obras para diminuir os cheiros estarão concluídas a 19 de Novembro. A emissão da licença por parte da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC) foi o motivo pelo qual a Junta de Regantes convocou o protesto, mas as 150 pessoas que marcaram presença falaram de muito mais do que a captação da água. "São os cheiros, é o fumo, e a água que a fábrica deita para o rio que vai toda contaminada. É um cheiro insuportável", afirmavam os moradores.
À manifestação compareceram os moradores afectados pela fábrica, que extrai óleo da grainha da uva, mas também os representantes do poder político do município, que não foram brandos nas críticas à administração da empresa. O próprio presidente da Câmara recusou o convite de Alcides Branco para visitar a unidade fabril. "O sr. Alcides Branco, enquanto administrador, a mim não me engana mais. Já assumiu muitos prazos e não cumpriu nenhum. Anda a mentir à Câmara há quatro anos. Compromete-se a resolver tudo e eu pergunto se ele próprio sabe o que é preciso fazer para a fábrica laborar em condições. É que já me foram apresentadas várias soluções, até incoerentes, para a resolução do problema ambiental", afirmou o autarca.
Carlos Cabral sublinha que a autarquia, apesar de ser lesada, nomeadamente pelo facto dos cheiros chegaram à estância termal do Luso, está limitada na possibilidade de intervenção. "A Câmara foi a única entidade que sempre foi dando pareceres negativos relativos a esta fábrica. O que pode fazer é exigir que as diversas entidades públicas que têm capacidade para o fazer digam claramente à administração que ou cumpre ou não labora", sublinhou o autarca, referindo que a unidade, localizada na Lameira de Santa Eufémia, não está dimensionada para o volume de produção que atingiu.
Este será o único ponto com o qual a administração da Alcides Branco concorda. O administrador, que dá nome à unidade, admitiu que a Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) não tem a capacidade exigível actualmente - sublinhando que o excedente de resíduos é enviado para Espanha para tratamento e não lançado à ribeira - e que por isso pediu licenças para alargamento da mesma. No que respeita à captação de água da ribeira, Alcides Branco diz tratar-se de uma renovação que nem sequer é cumprida, porque, de facto, o caudal da ribeira não permite a sucção de 1500 metros cúbicos diários.
Sobre o principal incómodo para os moradores, os maus cheiros, o administrador voltou a prometer que estes diminuirão já a partir de 19 de Novembro, data em que ficará completa a instalação de um secador de fumos na chaminé da unidade. "Vamos ver se quer resolver a bem, ou então resolve de outra maneira", asseguravam as pessoas.
Raúl Aguiar, da Junta de Turismo do Luso-Buçaco, deixou o aviso. "Já foram queixas para o Ambiente, para a Economia, para o Turismo e agora vai mais uma para o Sócrates", afirmava aludindo às queixas de turistas e atletas que usam o Centro de Estágios do Luso. Mário Pedrosa, do mesmo organismo, com o cepticismo com que os moradores ouviram administração da Alcides Branco, disse só acreditar nas promessas "quando estiver dois meses sem sentir os cheiros no Luso".