A Quiroprática, medicina alternativa, que trata o sistema músculo-esquelético com as mãos, sabe há muito tempo que parar a dor e a rigidez "estalando" o pescoço de uma determinada forma pode também baixar a pressão sanguínea, mas as razões nunca foram conhecidas.
Agora, uma equipa, liderada pelo professor Jim Deuchars, da Universidade de Leeds, examinou ligações entre o pescoço e o cérebro para mostrar como os nervos do pescoço podem desempenhar um papel crucial no controlo da pressão arterial, batidas cardíacas e respiração. O trabalho da equipa de Leeds começou por acaso e está ainda numa fase inicial, mas os investigadores acreditam que possa contribuir para encontrar tratamentos para doenças como a hipertensão.
"As células na área do cérebro que recebem sinais do pescoço saltaram-nos à vista quando etiquetávamos secções com marcadores particulares. Quisemos saber como estas células estavam organizadas e a que outras regiões do cérebro estavam ligadas", explicou Deuchars.
O estudo, publicado no
, apresenta a primeira evidência do papel destas ligações nas regiões do cérebro que controlam as funções do corpo que o ser humano realiza sem pensar, tais como a pressão arterial e a respiração. A equipa, que inclui também investigadores do Japão e da Hungria, encontrou uma ligação entre estas células e o "nucleus tratus solitarius", uma área do cérebro que controla as funções que o corpo desempenha inconscientemente.
Os resultados da investigação sugerem que os sinais nervosos do pescoço podem desempenhar um papel-chave no controlo da pressão sanguínea ao assegurar o fornecimento adequado de sangue ao cérebro assim que mudamos de posição, como levantarmo-nos da cama, por exemplo.
Onde este processo falhar, podemos sofrer de problemas de equilíbrio e de pressão sanguínea.
Segundo Deuchars, "as descobertas apresentam uma explicação racional para os tratamentos manipulativos" relatados, por exemplo, nos jornais da Quiroprática, segundo os quais "manipular a região do pescoço reduz a pressão sanguínea em algumas pessoas".
"Ao identificar estas ligações podemos ver por que estes tratamentos podem funcionar e pode também explicar por que algumas pessoas que sofreram ferimentos no pescoço podem sofrer alterações na sua pressão sanguínea", referiu Deuchars.
O estudo contribui também para compreender a hipotensão postural, desmaio que pode ser causado quando nos levantamos demasiado rápido, já que os músculos do pescoço podem integrar um sistema que impede que isto normalmente aconteça, emitindo para cérebro sinais de que a postura mudou.
O investigador salientou que é necessária mais investigação para detectar quais são os nervos sensitivos e as células envolvidas no processo, assim como a que outras regiões do cérebro estão ligados os músculos do pescoço, de forma a projectar tratamentos mais eficazes para doenças como a hipertensão.
A área do cérebro onde as ligações do pescoço terminam foi identificada pelo "pai" da neurociência Ramon Y Cajal há mais de 100 anos, mas a sua função nunca foi compreendida.
O que acontece depois de estes sinais chegarem ao cérebro permaneceu até agora uma área de pesquisa muito negligenciada.