Claro que a chamada crise de liderança no PSD nos diz respeito a todos, desde logo porque a democracia assenta na participação pluralista dos partidos políticos na vida democrática, cabendo-lhes concorrer "para a organização e para a expressão da vontade popular, no respeito pelos princípios da independência nacional, da unidade do Estado e da democracia política." Este princípio constitucional, a par doutros como o da defesa do pluralismo de expressão e organização política democráticas, constitui o suporte da democracia política.
Mais de 33 anos de liberdade ensinaram-nos a conviver com as incontornáveis crises partidárias, cujas causas situo entre as dificuldades próprias dos vendavais que se seguem às derrotas eleitorais (sobretudo, quando são copiosas como a que o PS infringiu ao PSD nas últimas legislativas) e as crises que decorrem das lutas internas pela disputa do poder.
Situo a presente crise do PSD neste último campo. É uma questão de poder, a que subjaz o tacticismo próprio de quem sabe que, tarde ou cedo, estará no centro do verdadeiro poder: governar Portugal e os Portugueses. As democracias modernas vivem da alternância do poder, com a particularidade deste ser alternado em Portugal por PS e PSD. Que líder do PSD vai disputar o poder com o PS nas eleições legislativas de 2009? Ser-me-á indiferente? Prefiro o pior dos líderes do maior partido da actual oposição, fórmula mágica para garantir nova vitória retumbante de José Sócrates? Ou prefiro o melhor? Claro que aposto no melhor.
Não se trata de apostar no que melhor sabe usar o direito de crítica ou réplica, mas de desejar um maior equilíbrio e sensatez na disputa pelo poder.
Admiro a frontalidade de Marques Mendes sobre a decisão de retirar apoio a autarcas do partido suspeitos de actos de favorecimento pessoal, senão mesmo de corrupção. Como admiro essa outra decisão de acabar com as "cabazadas" nas eleições internas, o que conseguiu, impondo o pagamento pessoal das quotas dos militantes.
Mas sou de opinião que, com Filipe Menezes, o PSD beneficiará de maior transparência interna (até quando?) e de mais frontalidade e bom senso na abordagem e na vontade de contribuir com sentido de Estado para as impopulares decisões sobre tantas questões que emperram o nosso desenvolvimento sustentado.
Não basta ser mero contra-poder, estar sempre do lado oposto da barricada das decisões do partido que governa. Mesmo que sinta que vai perder, torço por Luís Filipe Menezes, que acho mais pragmático, sensato e ousado; a prova do que digo está no método de gestão por ele introduzido na CM de Gaia.
A talhe de foice, convém ter presente que LFM se distanciou claramente do patrão madeirense. Com LFM, aquele Sr. Deputado do PSD que, nas comemorações do 25 de Abril na Assembleia da República, denunciou cá um ambiente de "claustrofobia democrática", ia de vela para lá.
Que venha, pois, um líder que se assuma como oposição construtiva e sensata a um Governo e a um 1º Ministro a que não têm faltado coragem, determinação e vontade de mudar Portugal.