Há um ditado que diz “mais vale tarde que nunca”. Aplica-se na perfeição à situação vivida em Portugal nos últimos dias a propósito da construção do futuro aeroporto. Eu não gostava de chamar recuo à posição do Governo, mas tão só de regresso ao comum bom-senso. E o bom-senso que o Primeiro-Ministro teve agora, faltou ao ministro Mário Lino em quase todo este processo. As certezas absolutas que mostrava na apreciação dum projecto, o da OTA, o autismo, a surdez e a indiferença às críticas e às opiniões contrárias, a desvalorização de qualquer alternativa que se lhe oferecia e deselegância com que desdenhou das populações e os autarcas da zona sul, mostram à evidência que este senhor não tem perfil para ministro. Só mesmo um primeiro-ministro teimoso ainda não o despediu. Um ministro deve decidir sobre propostas técnicas que lhe são apresentadas e não tomar partido antecipado por uma delas. Mesmo o argumento de se terem anteriormente gasto milhões em estudos não cola. Porque se gastaram esses milhões, quando agora um simples estudo viário superficial e uma análise ambiental duma organização da sociedade civil bastou para colocar em causa tantos milhões em estudos? Algo vai muito mal nos nossos ministérios. Aos olhos de qualquer português atento parece evidente que este processo está errado desde o início. Parece óbvio que eventuais interesses, sejam ao Norte ou ao Sul do Tejo, tiveram mais importância os estudos técnicos. Mas há duas ou três coisas que como português interessado não entendo e que agora, graças a esta evolução, fiquei ainda mais perplexo com a forma como nos governam. Então, os estudos não devem, primeiro, estabelecer as características técnicas necessárias à construção de um aeroporto e só depois procurar um terreno para localizar o mesmo? Então não deveria ser prioridade arranjar terrenos públicos em detrimento de expropriações a privados naturalmente muito mais onerosas? Também não entendo o porquê só agora se terem lembrado do LNETI.
António Granjeia* *Director do Jornal da Bairrada |