Uma "boa estratégia de combate" é a melhor arma contra o problema do stress nos estudantes e professores, defende Anabela Pereira, investigadora da Universidade de Aveiro (UA), que se prepara para publicar um trabalho de investigação sobre o tema. Se o combate ao stress fosse, como metáfora, transportável para um cenário de guerra, esta investigadora do Departamento de Ciências da Educação da UA aponta como fundamental "identificar correctamente as situações indutoras de stress". É que, e ainda no campo metafórico, conhecer bem o inimigo é um avanço conquistado à partida para a batalha e esta pode ser uma subtil síntese para o trabalho "O Stress na Vida Académica", a que a agência Lusa teve acesso. Em declarações à Agência Lusa, a docente da UA explicou que na génese desta investigação esteve, entre outras razões, a constatação de que, "por vezes, os alunos têm notas brilhantes mas não sabem gerir as adversidades do dia a dia". Anabela Pereira admite mesmo que existem situações em que excelentes alunos deixam de o ser pelo simples facto de não terem capacidade adquirida para lidar com a mais pequena contrariedade, sendo disso exemplo "o simples rompimento de uma relação amorosa". "Em suma, o que é preciso perceber é que o que é grave não é ter problemas, mas sim a incapacidade para lidar com eles devidamente", disse ainda à Lusa, acrescentando que "as pessoas com maior sucesso são as que encontram na adversidade novos e estimulantes desafios". "As situações indutoras de stress na vida académica têm um significado e é esse significado que é preciso conhecer bem para ultrapassar os obstáculos inerentes", explicou, adiantando que o sucesso neste combate passa por conhecer igualmente os recursos disponíveis para lhe fazer frente. Anabela Pereira deu como exemplo os diversos contextos sociais. Assim, se no mundo rural "se reza perante um problema, com sucesso, noutro meio as soluções tendem a ser outras e é importante que o indivíduo saiba o potencial de resposta que tem ao seu alcance". O passo seguinte, explica a autora ao longo das dezenas de páginas onde plasmou a sua investigação, é "saber utilizar adequadamente as estratégias de 'coping'", termo utilizado para definir essas mesmas estratégias e a sua aplicação. O stress na vida académica, sugere a investigadora, pode ser um fardo para estudantes e professores, por vezes com resultados negativos, não só no sucesso da aprendizagem e do ensino, mas também na saúde dos indivíduos. Anabela Pereira aponta como público a que se destina esta investigação psicólogos, alguns professores, educadores de infância e outros técnicos que trabalham em contextos de educação e saúde. Um dos momentos na vida académica em que o stress ataca com maior malignidade é a época dos exames e, para esses momentos fulcrais da vida dos estudantes, Anabela Pereira determina ser essencial "saber enquadrar a ansiedade aos exames ao nível da classificação dos distúrbios mentais e compreendê-la". E, na sua investigação, sublinha que, embora na sua generalidade, os alunos consigam lidar adequadamente com as adversidades escolares, alguns tendem a "percepcionar as situações de avaliação como pessoalmente ameaçadoras". "Questionam seriamente as suas capacidades intelectuais e competências durante as avaliações, indo estas influenciar a sua auto- estima", complementa. E o resultado, adverte, pode ser a "antecipação do fracasso ou a perda pessoal", que levam a "uma postura tensa, apreensiva e fisiologicamente activada e à consequente redução na qualidade do desempenho, o que caracteriza um quadro designado por ansiedade aos exames". Na estratégia aconselhada aos estudantes por Anabela Pereira, estes devem "desenvolver aptidões, de forma a saber lidar adequadamente com o processo de transição (solidão e adaptação ao novo meio), com a vida académica (stress aos exames, ansiedade, avaliações e professores) e com o seu desenvolvimento pessoal e social (auto- conceito e relações interpessoais)". As técnicas a adoptar para resistir ao perigo do stress podem ser divididas em dois grandes domínios: "As técnicas comportamentais (centradas na emoção) e as intervenções baseadas em "técnicas cognitivas, cognitivo-comportamentais e focadas nas competências". Entre os métodos mais comuns, a autora destaca "a indução de ansiedade, o treino de relaxamento, a dessensibilização sistemática, o treino de controlo da ansiedade e o modelamento". O exercício e a actividade física, bem como outros modelos alternativos como as actividades ao ar livre, meditação ou yoga são, refere Anabela Pereira, "também eficazes, porque ajudam a libertar a tensão acumulada". Anabela Pereira deixa um aviso à navegação: "este problema tem consequências devastadoras para a vida dos jovens, manifestadas quer a nível do insucesso e abandono escolar ou mesmo a nível do suicídio juvenil". |