A criação de um centro de interpretação e a recuperação do viveiro são algumas das intervenções previstas para beneficiar este ano o património da Mata Nacional do Buçaco, orçadas em 1,3 milhões de euros, foi hoje anunciado. De modo a preservar os valores da mata do Buçaco, situada na freguesia do Luso (Mealhada, distrito de Aveiro) e com uma área aproximada de 105 hectares, está a ser elaborado um plano de ordenamento e de gestão, hoje apresentado na presença do secretário de Estado do Desenvolvimento Rural e das Florestas, Rui Gonçalves. "Queremos recuperar estruturas arquitectónicas (existentes na mata), não apenas para facilitar a vinda de turismo cultural, da natureza e científico, mas também para a valorizar aos olhos do cidadão comum, para que ele tenha condições de conhecer melhor o que aqui existe", justificou o secretário de Estado aos jornalistas. A criação de um centro de interpretação, a recuperação do viveiro/estufa e dos edifícios das Portas de Coimbra são três das intervenções previstas, cujos projectos de execução (protocolados com a Universidade de Aveiro) devem ser entregues até ao final de Março. De acordo com o calendário apresentado hoje pelo arquitecto Nuno Lecoq, o início das obras está previsto para 01 de Agosto, devendo ficar concluídas no final do ano. Rui Gonçalves disse que, além destas obras de recuperação arquitectónica orçadas em 1,3 milhões de euros, o plano de ordenamento vai apontar "outras coisas para fazer a seguir", para as quais espera receber apoios comunitários no âmbito do Quadro de Referência Estratégico Nacional. Nuno Lecoq explicou que foram identificados vários pontos fracos na Mata do Buçaco, nomeadamente a falta de conhecimento científico sobre o património biológico, o défice de infra-estruturas de apoio aos visitantes, a ausência de sinalização no seu interior e a falta de vigilância do património, o que tem permitido um "grau de vandalismo significativo", nomeadamente ao nível do património religioso. A mata do Buçaco acolheu, durante dois séculos, a Ordem dos Carmelitas Descalços, que aí criaram um "deserto" (onde os monges eram obrigados a plantar árvores), uma via sacra e os passos da Paixão de Cristo, onze ermidas, capelas e o Convento de Santa Cruz (onde está actualmente um palacete de estilo neomanuelino), passando a ser gerida pelo Estado em 1834. Na mata existe ainda uma área com floresta primitiva e também espécies exóticas que terão começado a ser plantadas no século XVII, o que leva os responsáveis do plano a estarem também atentos às fragilidades que apresenta em relação aos fogos florestais. Neste âmbito, encontram-se no terreno 12 equipas de sapadores florestais a criar uma faixa de gestão de combustível no perímetro florestal ao longo da cumeada da Serra do Buçaco e uma faixa de protecção aos limites da mata nacional. O secretário de Estado admitiu aos jornalistas que a floresta portuguesa, em geral, tem problemas no que respeita "ao seu ordenamento, à sua gestão e à sua prevenção contra os incêndios", mas defendeu que, "em particular nas matas nacionais, tem de se fazer um trabalho de recuperação muito importante". O governante frisou o papel das equipas de sapadores florestais, que têm "um trabalho duplo: prático, que é a defesa desta mata nacional contra os incêndios, mas também simbólico, que é o de dizer que vale a pena recuperar os nossos espaços florestais, porque eles são não apenas uma fonte de riqueza mas também um património que interessa a todos preservar". Aludindo às centenas de espécies da fauna e da flora já identificadas pelo Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro, Rui Gonçalves sublinhou que esta riqueza tem de ser valorizada e dada a conhecer, cabendo ao Governo garantir que exista "hoje e no futuro, a médio e longo prazo". |