1) Esta semana, em dois ministérios importantes, saltaram dois episódios reveladores da forma autoritária com que actualmente o país é governado. Nada tenho contra a autoridade, quando exercida com o necessário bom senso e se administrada sem que a única prepotência a vencer, seja a que deriva directamente da incapacidade ou incompetência para encontrar as melhores e mais adequadas soluções. Um primeiro caso é o das duas mortes no espaço de duas semanas no mesmo concelho alentejano. É triste, para não dizer vergonhoso, que num país que se reclama do primeiro mundo, ver seres humanos morrerem simplesmente porque a distância e o tempo que separam a vida dos portugueses sejam maiores, tragicamente maiores, que o tempo que o ministro gastou a produzir a reforma do sistema de gestão das unidades de saúde. O ministro cortou custos, cortou nos recursos humanos, cortou nas maternidades e outras valências de saúde descansando o povo, dizendo que as unidades de transporte de emergência resolveriam todos os problemas emergentes. Infelizmente, para os alentejanos de Odemira, o que sobrou em distância entre reestruturadas unidades de cuidados de urgência e em tempo para as ambulâncias percorrerem esses infindáveis quilómetros escasseou à vida de dois portugueses que tiveram a infelicidade de terem sido as vítimas dum sistema, incompetentemente organizado. Mas que dirá agora Correia de Campos? Por muito profissionalismo e coordenação de meios técnicos que existam não há solução para o corte cego de meios. Não tem desculpa e merece castigo. 2) A outra desgraça é a justiça. O sargento Luís Gomes foi condenado a 6 anos de prisão no fundo, por ter recolhido uma criança de 3 meses, de a ter educado como pai, de a continuar sustentar e a dar-lhe carinho e afecto. O sargento foi também incapaz de lidar com o tempo que a justiça leva a julgar e resolver estes casos. A história é simples: Uma mãe, sozinha e desempregada, sem dinheiro para o sustento da filha, entrega, à margem de qualquer mecanismo legal, a filha ao casal Gomes. Na sequência de uma acção do Ministério Público, o pai biológico, que não reconhecia a filha, sujeitou-se a testes de ADN que confirmaram a paternidade. Perfilhou, depois, a criança, manifestando vontade em tê-la à sua guarda. Independentemente dos contornos jurídicos do caso que não conheço, não percebo por que andam desde Janeiro de 2005 às voltas com uma decisão do tribunal constitucional por causa da guarda da criança. Que diabo, não conseguem andar mais depressa? Esta desesperante lentidão judicial acaba por toldar as decisões dos intervenientes e provavelmente ditar emocionalmente as acções menos correctas. Provavelmente, o sargento agiu mal, mas merecerá a prisão? Mas, sobretudo, merecerá estar 3 anos à espera que o tribunal decida sobre o futuro de uma criança enjeitada pelos pais num primeiro momento e a que ele e a esposa deram abrigo. Alguém se preocupou com a criança? Resultado desta confusão jurídica: Parece agora que pai biológico já fala em receber umas massas pelos danos psicológicos. Por outro lado pai adoptivo prefere a prisão a entregar a filha. Eu sei que a Justiça é cega, mas tanto? Tantas reformas que anunciam e não conseguem fazer as necessárias alterações na justiça para que estes casos não aconteçam. Tantos estudos e não conseguem implementar sistemas na saúde que matam por chegarem atrasados? 3) Houve notícias que muitos médicos receitam muito. E receitam mal. O pior é que um dos medicamentos mais receitados é contra indicado pelo próprio ministério e, imagine-se...comparticipado! Ora bolas, decidam-se!
Depois, vem a questão dos médicos e seus rendimentos. SNS ou decide que quer competir com privados ou bem que poderá contratar médicos a Espanha e Ucrânia. Claro que o mais simples era aumentar as vagas nas Faculdades de Medicina...mas isto já seria entrar por outro Ministério problemático...demais para um Governo só.
António Granjeia* Director do Jornal da Bairrada
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