Nas edições 1749 e 1799 do nosso jornal escrevi sobre o aumento do petróleo e as suas causas próximas. Na altura em que escrevi esses editoriais, (Julho de 2004 e 2005), o barril de petróleo negociava-se a 40 e 60 dólares respectivamente. Passado todo este tempo de subidas, a notícia é que, em Janeiro de 2007, o preço parece estar em baixa. O preço do ouro negro aumentou 15 dólares 1988 para quase 75 dólares a meio de 2006 onde atingiu o seu máximo. Receio bem que as descidas de hoje sejam conjunturais e não definitivas. As causas na origem destes aumentos mantêm-se; a excessiva dependência da civilização ocidental ao petróleo, a escassez do produto e a incapacidade (ou oportunidade) para não aumentar significativamente produção mundial. Mas as causas políticas também não se devem desprezar. Tanto os conflitos armados no golfo arábico, quer o crescente fervor fundamentalista que se alimenta na incapacidade de fazer a paz no médio oriente não dão mostras de ceder. Os problemas subjacentes agravaram-se: as razões ambientais nefastas crescem exponencialmente e, infelizmente, na razão inversa das soluções encontradas. A queima de combustíveis fosseis, que liberta dióxido de carbono, provoca o efeito de estufa e o aquecimento global do planeta. Lembrei, na altura o estudo SIAM fase II sobre as alterações climáticas previstas para Portugal. Convém relê-lo (http://www.siam.fc.ul.pt/resumos2.html) e meditar bem sobre o assunto até porque alguns dos prognósticos tornaram-se bem reais: os incêndios florestais, as secas, as intempéries, a acidez dos oceanos etc Ora em Portugal a situação ainda é mais complicada porque, como todos sabemos, não temos nem cheiro a petróleo. Apenas o compramos, pelo que a nossa dependência é absoluta. Só temos então um caminho: alterar a dependência do petróleo. Mas, apesar de vivermos nesta evidência sem exigir o empenhamento concreto da administração pública na conservação energética, criando incentivos à poupança e fiscalizando, com punição, do desperdício. Continuamos a não incentivar a investigação na procura de novas soluções e alternativas. Ao contrário, a política governativa é orientada apenas para a receita que os combustíveis dão, como se de uma árvore das patacas se tratasse. Em 1 de Janeiro, os preços subiram mais 3 cêntimos (6 escudos) por litro apenas e só porque aumentou o imposto contrariando a tendência do preço internacional. Em Portugal 70% do preço dos combustíveis são impostos e servem apenas para alimentar o monstro do estado e não para promover políticas para travar a nossa dependência dos combustíveis fosseis. Parece-me que mais uma vez estamos a deixar passar as oportunidades e contrariar a tendência europeia de baixa dos combustíveis. O governo de Sócrates tem de ser responsabilizado por estes erros, até porque estes aumentos camuflam os aumentos dos impostos directos que prometeu não fazer quando, ganhou as eleições.
António Granjeia* *Director do Jornal da Bairrada |