A Comissão de Utentes da A17 e A29 considera ter provado ontem que estas duas auto-estradas não podem vir a ter portagens, alegando que a Estrada Nacional 109 é incapaz de ser uma verdadeira alternativa. "Saímos de autocarro de Espinho, em direcção a Mira, pela EN 109, e demorámos uma hora e 46 minutos para fazer 67 quilómetros. No regresso, já pelas Scut (vias sem custo para o utilizador), fizemos 70 quilómetros em 47 minutos", descreveu à agência Lusa Miguel Bento, da comissão de utentes contra as portagens. Durante o percurso pela EN 109 entre Espinho e Mira, o autocarro passou por Estarreja, Aveiro e Ovar, entre muitas outras localidades. Segundo Miguel Bento, "caso as Scut venham a ter portagens pagas, esta via é completamente desajustada para passar a receber milhares de carros por dia, colocando mesmo em risco a segurança das pessoas" que vivem nas localidades que atravessa. "No percurso entre Espinho e Mira passámos por 115 passadeiras, 46 semáforos e 15 rotundas, o que só vem demonstrar que, neste momento, já não é uma verdadeira estrada nacional. Há vários troços que já são municipais", afirmou. Por considerar que o ministro das Obras Públicas e Transportes, Mário Lino, não tem conhecimento destes dados, a Comissão de Utentes da A17 e A29 enviou um pedido de audiência ao governante no final da semana passada. "Gostaríamos de lhe expor estes dados e as nossas vivências", avançou Miguel Bento. Além da questão da segurança, a comissão de utentes argumenta também com os problemas financeiros que a colocação de portagens causará à região, quer para as famílias, quer para as empresas. Segundo contas da comissão, uma pessoa que viva em Ovar e trabalhe em Aveiro, para viajar diariamente pelas auto-estradas "vai gastar 120 euros por mês só para portagens, a seis cêntimos por quilómetro". "É mais um imposto no orçamento familiar e também para as empresas. Isto numa região onde o desemprego e o encerramento de empresas não param", lamentou. Miguel Bento considerou ainda curioso que, à saída da portagem de Estarreja da A1, "não exista qualquer placa a indicar a EN 109, ainda que seja apontada como a alternativa". A saída de Estarreja da A1 é utilizada diariamente por centenas de automobilistas que se dirigem ao Norte e que ali tomam a A29, evitando pagar portagem no percurso até ao Porto pela A1. A comissão tem em curso um abaixo-assinado, que já foi subscrito por 1.500 pessoas, para entregar na Assembleia da República. "Há cada vez mais pessoas a aderir, a assinar, porque perceberam que é uma luta justa", frisou o representante dos utentes. Já a 04 de Dezembro, a Comissão de Utentes da A17 e A29 realizou um "buzinão" na saída da A1 de Estarreja, com o qual pretendeu mobilizar os automobilistas contra as portagens nas duas Scut. Entre os critérios definidos pelo Governo para a instalação de portagens em Scut estão o facto da região ter um produto interno bruto (PIB) igual ou superior a 80 por cento do valor nacional e um índice de poder de compra concelhio acima dos 90 por cento da média nacional. Outro critério é o trajecto em via alternativa demorar até mais de um terço do tempo assegurado pela Scut. |