O provedor da Misericórdia de Aveiro, António Canas, revelou, ontem, que a instalação do museu com o espólio da instituição está dependente do financiamento para a recuperação do edifício do séc. XVII. "Se não tivermos garantia de financiamento não poderemos avançar com a obra de recuperação do edifício e adaptação a museu", disse, à agência Lusa, António Canas. Segundo o provedor, o espaço destinado ao museu, onde funcionaram até há pouco tempo os serviços administrativos, situado entre a "Sala do Despacho" e a Igreja, necessita de intervenção, nomeadamente na cobertura. "A Misericórdia adquiriu há um ano o antigo hospital e não tem disponibilidade para avançar com a obra se não houver financiamento", disse. O projecto do museu está orçado em mais de 750 mil euros e a Santa Casa apresentou, para o efeito, candidatura ao Programa Operacional da Cultura, tendo igualmente pedido apoio à Fundação Gulbenkian. A Santa Casa da Misericórdia de Aveiro detém um vasto e valioso património documental e artístico, já inventariado e em processo de digitalização, cons tituído por mais de quatro mil peças, nomeadamente esculturas e telas. Nos seus "tesouros", merece especial relevo o "Senhor da Índia" ou "Sen hor do Hospital", uma escultura de marfim em peça única de grandes dimensões, representando Cristo Crucificado, que foi enviada de Malaca, nos princípios do séc . XVII, pelo benfeitor Diogo de Oliveira Barreto, segundo o historiógrafo Amaro Neves. A imagem é ornamentada por 250 rubis de diversos tamanhos, tendo a autenticidade das pedras preciosas, provavelmente provenientes de Ceilão, sido recentemente confirmada por investigadores da Universidade de Aveiro. Em curso, com o apoio do Programa Operacional da Cultura, está a decorrer o inventário e digitalização, nomeadamente do seu acervo documental, que deverá ficar concluído em Abril e vai disponibilizar, através da Internet, a visualização de cerca de duas mil peças, consideradas as mais relevantes. A cópia de um legado de João Martins, do ano de 1500, o chamado "Memori al", é o documento mais antigo do espólio, sendo uma escritura de aforamento de umas casas de Luís Annes, de 1513, o original guardado de maior antiguidade. |