O porte pago para o estrangeiro vai ser extinto pelo actual Governo como uma das medidas para fazer face à prolongada crise económica que ainda atravessamos. O porte pago é uma ajuda que o governo dá aos assinantes dos jornais regionais e que se articula com a política de incentivo à leitura, tendo sido lançado depois do 25 de baril de 74. Na última década os governos, numa lógica de redução das despesas, têm vindo a contestar a existência deste incentivo, iniciando com Guterres, uma progressiva baixa dos valores de incentivo ao mesmo tempo procuraram incentivar a modernização de muitos jornais. Neste ponto o Jornal da Bairrada cumpriu, afirmando-se como jornal líder na região e modernizando toda a sua organização e apostando na estrutura humana. Mas, estrategicamente os governos nunca alteraram o valor do incentivo ao porte pago para os nossos emigrantes. As razões são óbvias: manter a mais importante e fundamental ligação da diáspora com a Portugal. A Língua Portuguesa. Este governos, demonstrando uma insensibilidade e um autismo preocupante mexeu. Foi devido a crises semelhantes que grande parte dos portugueses se viu obrigado a emigrar, sempre em dolorosas situações, mas que na maioria dos casos se transformaram em casos de sucesso podendo mostrar, orgulhosamente, ao resto do mundo como somos capazes de ser empreendedores e competentes naquilo que fazemos. A imprensa regional tem sido uma espécie de paliativo para minorar as dores do afastamento tanto da família e amigos, como da terra natal. Tem sido da Imprensa Regional que recebem as notícias mais íntimas, como se de uma carta personalizada se tratasse, por isso ela é chamada a imprensa da proximidade e segundo as estatísticas, é mais lida do que a Imprensa diária. Por isto esta medida é injusta e perversa. Injusta para com todos os portugueses que vivem longe da Pátria e cujo afastamento se deve em primeira-mão aos governos de Portugal que nunca criaram condições para que não saíssem. Hoje mesmo, muitos jovens dizem que Portugal está bom é para emigrar. Injusta ainda porque esta medida coloca o oneroso da questão em pessoas que o governo ignora; Os emigrantes, que o governo não vê nem pensa porque estão longe, prevendo cobardemente que por isso a contestação será menor. A título de exemplo, o JB que hoje custa 25€ passará a custar 150€ onde quase 90% deste valor é “comido” pelos CTT que é uma empresa pública sem concorrência. Perversa, porque o governo acaba com este incentivo que é prioritariamente de valor estratégico para a nossa cultura e para o bem-estar emocional dos nossos compatriotas emigrados. Perversa porque o valor gasto é uma pequena gota no desperdício do Estado. Perverso porque é mais fácil cortar cegamente do que naquilo que todos sabemos que está a mais e que continua a crescer: funcionários públicos. Perverso ainda porque cada governo quer deixar uma obra dita de referência que custa milhões e anos de sacrifício a todos os portugueses. Foram os Estádios de futebol, foram novas pontes sem primeiro se cuidarem da manutenção da que já existem. É o TGV, a última orgia deste governo, depois de saber que gastou dinheiro na linha de comboios do Norte suficiente para construir dois TGV e que mesmo assim ainda não andam a 200 à hora em mais do 30km. As reformas necessárias em Portugal devem ser usadas com critério e ponderação e não de uma forma avulsa e descontrolada. Esta medida custará muito mais dos que os míseros milhões de euros que o Estado diz gastar. A intangibilidade do emocional nos emigrantes e a sua ligação a Portugal é muito mais importante do que o ego de um qualquer primeiro-ministro a inaugurar uma obra de regime, que normalmente acaba por ser mais um elefante branco gastador dos recursos de todos nós.
António Granjeia* *Administrador do Jornal da Bairrada |