O auditório da Estação Vitivinícola da Bairrada serviu de palco, na passada sexta-feira, dia 10 de Novembro, à cerimónia de entrega dos prémios daquela que foi a 3ª edição do concurso “As melhores vinhas da Bairrada - 2006” que voltou distinguir com o 1º lugar, as Caves Solar de S.Domingos. Os bons vinhos nascem na vinha Na sessão de abertura e perante uma vasta plateia, ligada ao sector, João Casaleiro, presidente da Comissão Vitivinícola da Bairrada, sublinhou que o concurso surgiu para “valorizar o trabalho da produção de uvas de qualidade e o seu contributo determinante para a elaboração de bons vinhos”. Considerando que “os bons vinhos nascem na vinha”, João Casaleiro salientaria ainda que “sem cuidar devidamente das matérias prima que são as plantas e os seus frutos, não conseguiremos impor os nossos vinhos no mercado, que é cada vez mais competitivo e global.” Segundo este responsável, “não vale a pena pretender vender os vinhos Bairrada a preços mais altos do que a concorrência, se não justificarmos, perante o mercado e os consumidores, que conseguimos ter mais qualidade”, ao mesmo tempo que “não conseguiremos demonstrar que os nossos vinhos Bairrada têm maior qualidade que os outros, se as nossas vinhas não forem melhor tratadas pelos nossos técnicos e pelos viticultores, de modo a que as nossas uvas na produção sejam mais saudáveis e mais maduras.” O responsável máximo da CVB chamaria ainda a atenção para “as dificuldades financeiras que vêm dos últimos anos, associada à quebra da quota de mercado dos vinhos Bairrada, que foi desviada para vinhos de outras regiões”, admitindo ter chegado a altura de “reconquistar os consumidores, nomeadamente propondo-lhe vinhos novos e mais próximos da sua preferência”. João Casaleiro falaria ainda pormenorizadamente da casta Baga predominante nos tintos da Bairrada, mas que “é difícil e exigente na sua condução”, considerando urgente “transformar as dificuldades em pontos fortes por via do engenho e dos meios técnicos de que dispomos.” A terminar, João Casaleiro voltaria a alertar que a corrida da qualidade não está ganha ou que a competitividade já se tenha alcançado: “estamos hoje melhor colocados do que estávamos há algum tempo atrás. Apenas isso”, havendo muito caminho ainda para percorrer, sendo este concurso um dos esforços para uma maior qualidade dos vinhos Bairrada. Verdadeira competição Também Adriano Aires, director da Estação Vitivinícola da Bairrada e presidente do Júri do concurso, realçaria a presença de mais parcelas (24) a concurso, assim como a presença a concurso Adegas Cooperativas considerando esse “esforço notável” revelando “um movimento de massas”, ou seja, de todo os agentes ligados ao sector (caves, produtores, adegas). Quanto a esta 3ª edição, Adriano Aires realçou o “ano difícil na vinha”. Sobre o regulamento do concurso, que foi alterado, salientou o prémio de reconhecimento para a Baga e Touriga Nacional (duas castras predominantes na região e difíceis), salientando ainda que o próprio concurso está em período de mudanças, considerando estar, agora, na hora da “verdadeira competição, pois até à presente edição a preocupação foi para a defesa e colaboração”. Segundo Adriano Aires está, portanto, “na hora de maior competição e mais profissionalismo, uma vez que já há candidatos a tirar benefícios do lugar que ocupam”, acrescentando que ao concurso “falta a sua função pedagógica que poderia ser valorizada, se os concorrentes pudesse visitar a parcela vencedora para também eles poderem melhorar.” Daí tenha apresentado já uma proposta que vai no sentido de, no final de Junho, a Comissão Vitivinícola pegar nos concorrentes e cada um apresentar a sua parcela a todos os outros, por forma a haver um julgamento mais justo, gerando ao mesmo tempo mediatismo e uma maior união e competição entre todos, bem como troca de informação e discussão. Mais valia Para o autarca andiense Litério Marques “esta iniciativa, como em qualquer região vitivinícola, tem necessidade de se concretizar, para premiar os melhores”, considerando também ser “uma mais valia para o sector, mostrando a vitalidade que cada vez mais é preciso ter”. Litério Marques, que se opõe à extinção da Comissão Vitivinícola da Bairrada, referiu que “quanto mais longe as Comissões estiverem, pior para a região”, mas que, no caso de haver reestruturação “que a sua sede seja sempre em Anadia, pois trata-se de um concelho com um historial no sector vitivinícola elevado, veja-se a quantidade de empresas - caves, adegas, cooperativas, produtores-engarrafadores e a própria história da centenária Estação Vitivinícola”, acrescentando recear que “essas decisões sejam meramente políticas e coloquem, em primeiro lugar, o interesse político.” Também para o representante da empresa vencedora, Alexandrino Amorim, das Caves Solar de S. Domingos, “acabar com a CV não tem cabimento e é acabar com uma das regiões mais antigas de Portugal.” Caves S.Domingos “O prémio foi, para nós, uma surpresa uma vez que não esperávamos. Pensava haver mais concorrentes. Penso que as pessoas deveriam estar mais disponíveis e fazer mais pela Bairrada. Com melhores vinhas teremos forçosamente melhores uvas e melhor vinho. Este prémio é o corolário do trabalho de campo. Trata-se de uma vinha com 2,5 hectares localizada em Mogofores - Casal da Silveira (Baga e Touriga Nacional), com grande densidade de plantação e com um índice muito baixo de falhas, por forma a dali tirar o máximo rendimento. O prémio é uma mais valia para a empresa. O trabalho começa na vinha e não na adega e esta é a condição fundamental para ter bom vinho.”
Catarina Cerca catarina@jb.pt Alexandrino Amorim Premiados 1º Caves Solar de S. Domingos 2º Mário Sérgio Nuno (Quinta das Bágeiras) 2º Caves S.João 2º Sociedade Agrícola Colinas de São Lourenço 3º Rui Amaro Barros (produtor de uvas) |