O psiquiatra Braz Saraiva considerou ontem "intrigante a nível internacional" o aumento da taxa de suicídios em Portugal , que mais do que duplicou, mas advertiu que ainda é cedo para retirar conclusõe s devido à escassez de dados. No final da década de noventa, a taxa de suicídios anual era de 500, mas em 2002 e em 2003 - os últimos dados conhecidos - este número mais do que duplicou, revelou o médico em declarações aos jornalistas à margem das sextas Jornad as sobre Comportamentos Suicidários, no Luso (Mealhada). "Não se podem tirar ainda grandes conclusões. Temos de aguardar pelos dados de 2004 e 2005 para apurar se, do ponto de vista epidemiológico e sociológico, estamos numa fase de crescendo", adiantou o responsável pela Consulta de Pre venção do Suicídio dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC). Factores como o desemprego de longa duração e outros problemas associados a "uma perda de esperança permanente" podem explicar este aumento, que se tra duziu em 1.200 casos em 2002 e 1.100 casos no ano seguinte. Por outro lado, e de acordo com dados facultados pelo médico relativos à consulta que chefia nos HUC, na última década o para-suicídio (tentativa de suicídio) aumentou cerca de 25 por cento, sendo um fenómeno mais frequente entre a s jovens adolescentes. Ontem, primeiro dia as jornadas, foi lançado o livro da autoria de Carlos Braz Saraiva "Estudos sobre o para-suicídio - O que leva os jovens a espreitar a morte". Ao apresentar a obra, o director da Clínica Psiquiátrica dos HUC, Adriano Vaz Serra, considerou-a "imprescindível para qualquer pessoa que se interesse pelo tema". "É um livro muito rico, com informação actualizada, fácil de ler e de ser compreendido, que aborda as dimensões científicas, sócio-culturais, religiosa s e epidemiológicas do para-suicídio", afirmou o professor catedrático da Faculdade de Medicina de Coimbra, que proferiu a conferência inaugural das jornadas. Segundo Braz Saraiva, as pessoas que tentam suicidar-se - sobretudo jovens com idades entre os 15 e os 24 anos, maioritariamente raparigas - encontram- se "doentes, vulneráveis, têm dificuldade em lidar com situações de stress" e o seu estado, "muitas vezes, não é valorizado no contexto da relação médico/paciente". Organizadas pela Consulta de Prevenção do Suicídio e Clínica Psiquiátri ca dos HUC, com o patrocínio da Sociedade Portuguesa de Suicidologia, as jornadas decorrem até sábado no Grande Hotel do Luso (Mealhada, Aveiro). O suicídio, a família, a religião e a cultura, o para-suicídio, as auto -mutilações e as perturbações do comportamento alimentar são alguns dos temas em discussão nos trabalhos em que participam, entre outros especialistas, Daniel Sampaio e Pio de Abreu. |