A paixão pela química reúne em Aveiro, até dia 15, jovens de 14 países na 11ª Jornada Iberoamericana da Química, num intercâmbio científico, mas também oportunidade de convívio com colegas de outras origens e culturas. O átrio do Departamento de Química da Universidade de Aveiro, onde durante a manhã imperou um silêncio sepulcral, encheu-se ontem pelas 12:30 de um animado burburinho, mesclado de castelhano e português, ao terminar uma prova prática da Olimpíada que tinha decorrido nos diversos laboratórios. Rapazes e raparigas de bata branca que praticamente nem se conhecem, partilham impressões sobre as dificuldades da prova e a forma como tinha corrido a cada um, como se fossem amigos há largo tempo. O momento era agora, sobretudo, de descompressão, a contrastar com o nervoso miudinho e os rostos graves da entrada para os laboratórios às 10:00. Alberto Fernandez Alarcon, do México, não disfarçava a confiança no final da prova. "Correu mito bem. Não achei a prova difícil e estive tranquilo porque nos deram bastante tempo. Estou convencido que poderei arrecadar um prémio", disse à Lusa. Passou quatro semanas de intenso estudo para se preparar e hoje foi um dos que madrugou para rever matérias antes da hora decisiva. Elogia as Olimpíadas "pela forma como se difunde a Ciência" e considera que a convivência "é muito divertida". "Conhecemos muita gente e inteiramo-nos de coisas interessantes de outros países. Pela primeira vez em Portugal, acha "piada" à musicalidade do idioma, afirma-se surpreendido por ser um "país tão bonito" e "encantado" com a cidade de Aveiro. As amizades criadas "na hora" substituem sem dificuldade a distância de casa, a ausência dos familiares ou de simples caras conhecidas. Isolados do seu mundo, aos participantes são-lhes retirados os telemóveis e só têm acesso à Internet devidamente acompanhados, apenas para enviar mails, pois estão proibidos de os receber. Fora da competição, cada país, representado por quatro participantes, é apoiado e "policiado" pelo seu "anjo da guarda", o guia. Recrutados entre estudantes que já participaram em anteriores Olimpíadas, os guias acompanham-nos para todo o lado, apoiando-os no que for preciso e vigiando-os para garantir que observam as rígidas regras da competição. Batota só mesmo nas horas de lazer, no cosmopolita jogo das cartas, em que os portugueses, espanhóis e venezuelanos são "os mais batoteiros" na opinião de Mariana Ferreira, aluna do 3º ano da Faculdade de Medicina do Porto, guia da "certinha" equipa do México. A guia, que já esteve como participante em outras olimpíadas iberoamericanas e internacionais, faz a sua classificação subjectiva sobre os jovens dos diversos países. "Os espanhóis, venezuelanos, uruguaios e brasileiros são os mais expansivos e convivem com os outros todos. Os Peruanos, cubanos, bolivianos e colombianos são mais introvertidos e tendem a conviver mais com os elementos dos seus respectivos grupos", diz Mariana Ferreira. Outro "tarimbado" nas Olimpíadas de Química, também guia no encontro de Aveiro, é o português Bruno Macedo, que arrancou uma medalha de bronze nas Iberoamericanas do Peru. "Não estava à espera de ser chamado para receber a medalha de bronze. Logo que me foi possível, enviei uma mensagem aos meus pais e à minha professora do Secundário, em Rio Tinto, onde estudei", recorda, considerando a participação uma experiência enriquecedora pelo contacto com a cultura de outros países que permite. As Olimpíadas Iberoamericanas de Química são disputadas por alunos do ensino secundário ou por caloiros do ensino superior e visam o estudo da disciplina e o desenvolvimento de jovens talentos. A Universidade de Aveiro, conjuntamente com a Sociedade Portuguesa de Química, tem sido a responsável pela realização das Olimpíadas Nacionais de Química e acolhe, durante oito dias, a 11ª edição das Olimpíadas Iberoamericanas. |