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26-07-2006

É serralheiro mecânico de profissão


De Ílhavo para o bairro árabe israelita de Acco

Octávio de Sousa nasceu em Ílhavo, no distrito de Aveiro. Foi um dos muitos trabalhadores especializados portugueses, que foram contratados por Israel na década de 1980. É serralheiro mecânico de profissão.

Chegou em 1987. Em 1990, sob a ameaça dos "skuds" provenientes do Iraque, os residentes temporários portugueses foram evacuados pelo ministério dos Negócios Estrangeiros. Octávio também saiu mas, três anos mais tarde, voltou e dessa vez para ficar.

"Foi o destino. Casei e fiquei cá". Casou com uma árabe, de religião cristã-ortodoxa-grega e foi viver para Acco, S. João de Accre dos Cruzados, poucos quilómetros ao sul de Naharya.

Vive com a mulher e dois filhos, um rapaz de 16 anos e uma menina de 10. Visitam regularmente Portugal e, no ano passado, a mãe visitou-o em Acco.

Vive de um pequeno negócio na parte árabe da cidade, mas há mais de uma semana que não abre a loja.

"Agora a vida é sempre a mesma, só dentro do quarto. Vivemos num bairro de construção recente, na estrada para Naharya, e já temos um 'heder atum' (quarto hermético). Por isso não temos que ir para um abrigo. De manhã cedo vou ao mercado, a cinco minutos de carro, comprar o leite e o pão e as coisas mais urgentes. A partir das 10 horas começam elas a cair, todos os dias. E já não se pode sair".

Esta semana, já caíram três foguetes "katiushas" a menos de 100 metros da sua casa e, na terça-feira, um míssil causou importantes estragos a 200 metros do local onde vive.

Para a economia da família, o encerramento forçado do negócio, situado numa outra área, na chamada "cidade velha", é um enorme prejuízo. "Mas que se há-de fazer? Temos que aguentar".

Também a clausura é muito difícil, sobretudo para as crianças.

"Eu tento disfarçar as coisas, mas é saturante estarem trancadas há mais de uma semana!".

"Felizmente, temos aqui família, cunhados meus que vivem um no mesmo prédio, outros no mesmo bloco. Sempre nos arriscamos a dar uma corrida, a casa uns dos outros, para bebermos juntos um café ou um sumo e darmos dois dedos de conversa".

De política, não falam. Todos os vizinhos, 95 por cento dos quais são árabes, sofrem pela falta prolongada de trabalho. "Alguns têm parentes refugiados no Líbano. Mas não se abrem, não falam disso comigo, talvez por eu ser estrangeiro."


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