É um dos muitos dramas humanos com que Cavaco Silva vai deparar no dia do "Roteiro para a Inclusão" em que se desloca ao distrito de Aveiro, numa visita que começa naquela instituição centenária de Oliveira de Azeméis.

Os moradores do lar são crianças com famílias desestruturadas, enviadas pela Segurança Social e pelos tribunais.

"As soluções podem ser várias, como a adopção, ou a família de acolhimento, mas por vezes o temporário é longo porque não é fácil organizar-lhes um projecto de vida", conta António Magalhães, responsável pelo Centro.

E aponta um exemplo: "Temos aqui uma jovem deficiente, que não tem família capaz e não tem capacidade para se auto-gerir, apenas uma avó já idosa. Era para ficar por oito dias e já cá está há 15 anos", desabafa.

A frustração de um ou outro caso mais problemático não tiram alento par a prosseguir a acção social. O apoio da comunidade não tem faltado e a história de 150 anos do Centro de Apoio Familiar Pinto de Carvalho é também feita de sucessos.

António Magalhães explica com orgulho que "vários jovens entraram no mercado de trabalho e alguns casaram aqui".

"Só temos razões para estarmos gratos à comunidade, que nos vai apoiand o com roupa, calçado, alimentos e até mesmo equipamento, já que a cozinha industrial que temos foi oferecida por uma empresa", salienta.

Apesar de antiga, a instituição tem instalações novas, com cerca de 500 0 metros quadrados de área coberta, construídas há dois anos em terreno oferecido pela Câmara de Oliveira de Azeméis.

Ali funciona um lar juvenil com capacidade para 30 jovens e um centro de acolhimento temporário de igual capacidade, que o Presidente da República vai visitar.

De Oliveira de Azeméis, a comitiva presidencial deverá rumar a Aveiro, onde Cavaco Silva assiste a um seminário sobre "Crianças em risco e violência do méstica", ouvindo testemunhos de quem lida de perto com esses problemas. É o que faz a religiosa Nazaré Jardim que dirige o Lar do Divino Salvador, vocacionado para acolher mulheres vítimas de violência doméstica, mães solteiras e de insuficiência económica.

O Lar tem capacidade para 12 mães e respectivos filhos, procurando ajud ar a respectiva reinserção.

As instalações são modernas, com cerca de oito anos de existência, e es tão bem equipadas.

Além dos quartos para as mães se fazerem acompanhar dos filhos, dispõem de toda uma estrutura de apoio comum, como a cozinha, lavandaria, biblioteca e outros serviços, "para que se sintam em família".

"Temos sempre pedidos e a capacidade nunca é suficiente", relata a irmã Nazaré.

As utentes são normalmente encaminhadas pela Segurança Social e, por vezes, por iniciativa pessoal.

"As que aqui chegam são mulheres com problemas gravíssimos, com a auto- estima muito em baixo, que precisam de informação, de formação, de um novo proje cto de vida", acrescentou a religiosa.

Um dos documentos de base do seminário é o último relatório social da comissão de protecção de Crianças e Jovens de Aveiro, que instaurou 139 processos em 2005, devido a situações denunciadas sobretudo pelos estabelecimentos de ensino, instituições de apoio à criança e estabelecimentos de saúde.