A credibilização da política e dos políticos tem sido tema recorrente de muitas conversas de café, de muitos encontros de portugueses, preocupados com o futuro da nação e também, é certo, de alguns desses mesmos políticos. Político, na nossa língua tem significados latos. Desde estadista, a pessoa delicada ou cortês, a manhoso, fingido, dissimulado ou astucioso. Todos nós pretendíamos que os políticos fossem, sobretudo, conhecidos pela sua entrega à causa pública, fossem desinteressados e não conotados essencialmente com a defesa de interesses ilegítimos ou fraudulentos. Existem naturalmente muitos, principalmente nas autarquias pequenas, que vêem a política como uma extensão da sua devoção ao bem-estar dos seus concidadãos, como uma resposta positiva à materialização positiva do progresso do seu espaço de poder. Mas cada vez mais, a população acredita menos nestes cidadãos íntegros e começa a medir tudo o que é político pela mesma medida. E esse é um drama que vamos ter que enfrentar todos. Qualquer dia, não temos que não pessoas quase que desqualificadas para nos liderar. Num futuro próximo, se calhar já hoje, é difícil a um primeiro-ministro, a um presidente de câmara, a um presidente de junta encontrar gente disposta a colaborar, desinteressadamente. E esta é culpa é de quem? Dos próprios em primeiro lugar. De todos nós em segundo. Dos próprios, apenas dois exemplos recentes. Os partidos da direita realizaram, recentemente, congressos, ditos clarificadores, que resultaram em nada. Nenhum deles esclareceu alguma coisa que já não se soubesse. Em nenhum deles estava em causa a liderança. Nos dois apenas se acertaram contas, se contaram espingardas e se prepararam trincheiras para lutas vindouras. Um exercício inglório, um desperdício de tempo. O chefe do governo, por sua vez, durante o magno encontro social-democrata, marca uma reunião partidária, sem justificação aparente e necessidade alguma, apenas para fazer marcação ao líder da oposição. Gastou precioso tempo que lhe faz falta na governação e nada acrescentou de positivo. Um outro exemplo bem mais preocupante assisti, eu, domingo à noite, numa gala de uma federação desportiva. Um secretário de estado, o do desporto, conseguiu fazer um daqueles discursos redondos, circulares, peganhosos sem nada dizer, apesar de ter proferido solenemente a palavra compromisso algumas quatro ou cinco vezes. Como peça de prosa, foi horrível, como discurso vergonhoso. Enfim, um daqueles representantes da classe política que nada acrescenta. Dos portugueses: por que insistem em não ser mais participativos na vida pública? Por que se acomodaram à democracia participativa mas daqueles que participam por eles? Porque ainda não perceberam que as elites que nos governam são gente sem brilho algum? Por que com esta não participação afastam os cidadão competentes da causa pública? António Granjeia* Administrador do Jornal da Bairrada |