Autoridade Às vezes, quando me atraso um pouco mais a escrever estas linhas semanais, que mentalmente antes fundamento, elegendo um tema, parece que sempre surge um qualquer acontecimento que modifica e tolda a minha vontade inicial. Isso aconteceu novamente esta semana. Na hora em que escrevo estas linhas não sabemos ainda o desfecho do cerco, para o arresto de um cadastrado numa casa na povoação de Adega em Sobral de Monte Agraço. Nos últimos meses este tipo de violência aumentou bastante e em particular os atentados contra as forças da autoridade têm registado um crescimento desconcertante. Lembremos os agentes da PSP e GNR mortos em serviço em 2005 ou o último ataque à guarda em Estarreja.
Todos sabemos que a profissão de agente de autoridade comporta os seus riscos, mas o País está a perder a fama e tradição dos seus brandos costumes.
Mais do que essa alteração de comportamento, que valha a verdade, muita vezes nos impede de sermos mais audazes nas transformações sociais necessárias, a realidade atropela-nos com o incremento da violência gratuita, com gangs de todos o tipo a aparecerem à luz do dia, desafiando a autoridade democrática das forças da ordem e recentemente, atacando-a como nunca tinha acontecido. A situação deveria merecer mais atenção por parte dos responsáveis e não as costumadas palavras bonitas de circunstância que sempre ficam bem nas exéquias dos polícias mortos em serviço.
Os meios operacionais e logísticos de que as polícias e guarda da república constantemente se queixam não são a solução para o principal mal de que padecem as autoridades deste Portugal, mas claro que ajudariam.
O problema central e recorrente é falta de respeito à polícia, a incapacidade de mostrar autoridade, a impunidade absoluta do chamado pequeno delito. Se a isto adicionarmos a confusão legislativa e a teia burocrática em que as organizações policiais se movimentam e a juntarmos à ineficaz e lentíssima justiça portuguesa já temos um quadro bastante negro que pouco abona em favor da autoridade.
Por fim, todos nós, talvez sugestionados pelo tempo da ditadura em que havia a necessidade de ocultarmos alguns factos, temos a incontida querença de que nunca denunciar seja quem for.
Todos estes factores conjugados destroem a autoridade intrínseca do Estado, minam a autoridade das polícias e desacreditam os políticos que as tutelam. Por isso esta situação ainda por resolver, num dos concelhos mais emblemáticos da chamada zona saloia de Lisboa, é paradigmático da intervenção das autoridades.
O arrastar de cercos, a negociação excessiva e o aparato mediático que suscitam é em minha opinião desfavorável para a autoridade das forças da ordem.
Nestes casos, em que são atacados os agentes, uma pronta intervenção é sempre demonstrativa de eficácia e capacidade de resolução e consequentemente reforça a notoriedade da polícia e impede o aproveitamento mediático doentio.
Temo que, mais uma vez, se venha a verificar o contrário neste caso. Neste tempo de campanha eleitoral presidencial é estranho também que ainda nenhum dos potenciais presidentes se tenha pronunciado sobre este problema grave de autoridade do Estado a que vão chefiar.
António Granjeia* *Administrador do Jornal da Bairrada |