Segundo inquérito, veiculado por estação de Televisão, mais de metade dos alunos usa a velha cábula nos pontos e nos exames. Talvez mais sofisticada hoje. Em vez de papiros ou simples papéis enrolados nas mangas ou nas meias (senão mais acima...), notas nas palmas das mãos ou nos braços, há agora os telemóveis E o mais dramático é que os professores não podem exigir-lhes muito esforço, dar uns berros aos mandriões - é anti-pedagógico, podem ser chamados à ordem, ter complicações. À ordem é que não podem ser chamados os alunos. Anos atrás, se o aluno não tinha bons resultados, a culpa ou era do professor, ou do aluno, ou de ambos. Hoje, a culpa é sempre do professor, a grande vítima do sistema do ensino. Os estudantes (alguns, entenda-se) arrastam-se pelas salas de aula, passeiam os livros. Até parece que é um favor que andam a fazer aos pais, professores e sociedade. Passar os olhos pelos livros é já um enorme sacrifício. Exigir-lhe que “queimem as pestanas” será, então, na verdade, um absurdo, uma violência. Tudo facilidades, uma democracia oca e sem sentido. Chegados ao ponto ou exame, querem eximir-se à má nota ou chumbo e muitos refugiam-se nas cábulas - um processo, ainda que velho, viciado e imoral, um expediente do nacional xico-espertismo. Tentam mostrar que sabem as matérias, quando não gastam muito tempo no estudo. Levado à prática este processo, os cábulas têm algumas vantagens, o que não é justo para a concorrência honesta. Com esta agravante: até pode acontecer que alguns destes cábulas nos venham a governar, nun país em que não se dá valor ao mérito, mas à senhora dona cunha... O resultado vê-se - o país cada vez mais longe da Europa, cada vez mais a entregar-se aos nossos vizinhos espanhóis que, em questão de negócios e não só, não dão ponto sem nó. Só por um tris e alerta de Jorga Sampaio, a Iberodrola não entrou na administração da EDP. Por descuido do governo ou uma certa cumplicidade, coisa que Sócrates ainda não clarificou. Os baldas são uma pecha nacional: baldam-se e cabulam os estudantes, os trabalhadores, os professores; baldam-se e cabulam e chucham connosco os políticos; baldam-se os secretários e os ministros. Com tão maus exemplos, balda-se e cabula o país.
Armor Pires Mota* *Chefe de Redacção |