“É um dos presépios mais impressionantes que já vi”. É assim que muitos dos visitantes classificam o presépio existente numa habitação particular, no concelho de Anadia, mais concretamente no lugar de Alféloas, e que já deu azo a uma autêntica romaria ao local, sobretudo de Jardins de Infância. Na realidade, aquilo que começou por ser uma pequena brincadeira e “mimo” de um avô para com um neto, acabou por se transformar num trabalho muito sério e admirado por todos aqueles que dele tomam conhecimento e o visitam. O presépio “animado” está localizado no Bairro Mira Crasto, em casa do filho de Luís Corveira, um ex-militar, já reformado dos Paraquedistas, que encontrou na electricidade, na mecânica e nos trabalhos manuais, a forma de ocupar os seus tempos livres. “Digno de ser visitado e apreciado por todos” Desconhecendo a habilidade que tinha para os trabalhos manuais, Luís Corveira, depois de 38 anos dedicados à vida militar, mas agora na reforma, decidiu aceder a um pequeno capricho do neto, então com três anos de idade e, no Natal de 2004, fazer-lhe um presépio com muitas cores e luzinhas. Uma brincadeira que tomou proporções que não imaginava possíveis, tornando-se o presépio numa das suas grandes paixões. Embora já no ano passado tenha encantado todos os membros da família pela sua originalidade, trabalho e complexidade, este ano, este avô decidiu surpreender toda a família, elaborando um presépio, digno de ser visitado e apreciado por todos. Num telheiro de casa de seu filho, no Bairro Mora Crasto, Luís Corveira, durante mais de uma semana, montou, ao pormenor, um presépio que construiu ao longo de mais de um ano: “ninguém imagina o trabalho que aqui está, as horas e o dinheiro que aqui investi. Só para colocar estes mecanismos a funcionar tive de aplicar três motores: um de um limpa-brisas, outro de um gravador portátil e um terceiro de um pequeno carro a pilhas”. Ocupando uma área de 16 metros quadrados, o presépio maravilha todos os visitantes não só pela sua dimensão, mas também pela complexidade dos mecanismos (vários motores) que fazem movimentar um conjunto de personagens (uns comprados e outros construídos pelo autor), a que se associam ainda inúmeros jogos de luzes de várias cores e uma cascata/riacho. A JBLuís Corveira explicou que “a igreja tenta reproduzir a Igreja da paróquia de Arcos, depois também aqui coloquei um pequeno forno comunitário, como o que existia na minha terra - Seia -, um lagar típico de Piodão. Pouco a pouco, decidi incluir também uma casa típica da Madeira, um moinho típico da zona saloia de Lisboa, uma nora típica da zona de Tomar, um castelo e um sem número de casas típicas, de várias regiões de Portugal, uma escola primária, entre muitos outros elementos decorativos”. Profissões antigas O mais impressionante é o trabalho manual realizado na construção de inúmeros personagens que animam e dão vida ao presépio: “optei por colocar também aqui as profissões antigas que começam a cair no esquecimento, sobretudo dos mais pequenos”. Dois lenhadores, um sapateiro, uma forja e um ferreiro são apenas alguns dos personagens animados, mas podemos acrescentar ainda três alpinistas, uma procissão (à volta da Igreja) com vários grupos de pessoas, um rancho folclórico típico a dançar ao som da música interpretada por uma banda filarmónica, vários pastores, muitas ovelhas, um rio, um farol, uma ponte, patos, um burro a tirar água de um poço, entre muitos outros elementos que animam e decoram este singular presépio bairradino, sem esquecer, como é evidente, os reis magos e o presépio com a sagrada família. “Até o musgo veio da minha terra, - zona da Serra da Estrela - pois por aqui não se encontra nenhum, devido ao longo período de seca”, revelou Luís Corveira, acrescentando ainda que, “depois, foi uma questão de paciência, muita dedicação e trabalho, para que todas as peças encaixassem e desempenhem a função para a qual foram concebidas”. Aliás, no presépio de Luís Corveira cada peça tem o seu local específico, a sua história para contar, constituindo um harmonioso conjunto. Bastante mais complexo “Este ano está bastante mais complexo que no ano anterior, pois todas estas peças em madeira são novas, - foram construídas ao longo deste ano”, acrescentou, admitindo e reconhecendo que “talvez, um dia, venha a estar exposto num local mais acessível para que todos o possam ver e apreciar”. No entanto, sublinha: “fi-lo a pensar no meu neto e para o meu neto, mas, se me pedirem, não vejo qualquer problema em vir a expô-lo publicamente para que todos o possam ver”, avançando ainda que “sempre gostei muito do Natal, desta quadra e de todos os sentimentos bons que a envolvem. Daí ter encontrado neste presépio não só um hobby, uma forma de passar o meu tempo livre, mas também de dar asas à imaginação, criando algo que possa ser visto e apreciado, sobretudo pelos mais pequeninos que, quando aqui chegam, ficam maravilhados com o que estão a ver”, “mas também para que não se esqueçam do presépio, quanto a mim a coisa mais bela de toda a quadra natalícia, mas que, infelizmente, em muitas casas, já não se faz e começa a cair no esquecimento”. Acrescente-se ainda que a notícia do presépio tem passado de boca em boca e já inúmeras crianças de Jardins de Infância têm passado por este local para apreciar o trabalho de Luís Corveira que, embora quisesse apenas agradar ao seu neto, acabou por deliciar muitos miúdos e graúdos. No seu projecto para o presépio de 2006, está já, como não poderia deixar de ser, a sua ampliação e a colocação de mais figuras, nomeadamente religiosas, à volta do presépio até à manjedoura do Menino Jesus.
Catarina Cerca |