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08-12-2005

Estudo sobre violência conjugal ajuda os médicos de família


Uma em cada cinco mulheres é agredida, médicos devem ajudar

Um estudo sobre violência conjugal que visa ajudar os médicos de família a compreenderem o problema apurou que uma em cada cinco portuguesas já foi agredida e associou as agressões ao alcoolismo do marido ou companheiro.

Publicado na Revista Portuguesa de Clínica Geral, o estudo foi realizado por Patrícia Coelho, interna complementar do terceiro ano de Medicina Geral e Familiar da Unidade de Saúde Familiar (USF) Horizonte, em Matosinhos.

A investigação visou determinar a prevalência de Violência Física Conjugal (VFC) em mulheres portuguesas, tendo a autora ressalvado a importância de os médicos de família compreenderem a dinâmica deste fenómeno, uma vez que "se encontram numa posição vantajosa para dirigir este problema".

O trabalho aborda os maus-tratos físicos (ou Violência Física Conjugal - VFC) nas mulheres que recorreram aos cuidados de saúde primários, num total de 500 mulheres nascidas entre 1948 e 1978, inscritas na USF Horizonte.

O estudo apurou uma prevalência de VFC na mulher de 20,5 por cento, a qual é semelhante à de outros países, mas "superior à referida por estudos portugueses".

A autora encontrou uma associação da VFC com o alcoolismo do marido.

Segundo Patrícia Coelho, "as mulheres maltratadas, a não ser quando questionadas directamente, sustentam habitualmente uma redução acentuada das suas vozes de mestria, convictas muitas vezes de que não é possível controlar o que acontece no quotidiano das suas vidas, facto este que impõe limites à possibilidade de mudança e à construção de uma história alternativa".

Por esta razão, a autora considera "importante que os médicos de família compreendam a dinâmica da violência conjugal, criando questionários apropriados sobre agressão, incentivando a segurança das utentes, dando apoio e referências apropriadas".

Dos casos de VFC identificados no decorrer do estudo, 58,6 por cento foram agredidas pelo actual marido ou companheiro, 36,2 por cento pelo anterior marido ou companheiro e 5,2 por cento pelo anterior e actual marido ou companheiro.

Os tipos de violência mais frequentes foram agressões na face (81,1 por cento), empurrões (62,1 por cento), pontapés ou murros (48,6 por cento) e murros ou pontapés nas paredes ou mobílias (48,6 por cento).

Em termos temporais, 8,1 por cento das mulheres foram agredidas nos últimos 12 meses, 70,3 por cento foram agredidas nos últimos 12 meses e antes, 21,6 por cento foram agredidas há mais de 12 meses.

A autora detectou uma associação estatisticamente significativa entre a VFC e o estado civil da mulher, sendo as mulheres separadas e divorciadas as que apresentam uma maior proporção de casos de violência conjugal.

O risco de violência revelou-se maior nos casos de famílias reconstruídas, monoparentais e de outros tipos, do que nas famílias nucleares e alargadas. O risco de violência é menor nos casos de famílias altamente funcionais.

A investigação apurou uma importante associação entre a VFC e o alcoolismo do companheiro.

No âmbito do alcoolismo, a autora ressalva que, para alguns autores, "esta relação ainda permanece controversa", tendo em conta que "os maltratantes que abusam de álcool, na sua maioria também agridem quando sóbrios, mas com maior violência quando sob efeito do álcool".


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