O depoimento de um especialista em balística derrubou, na penúltima quarta-feira, a tese defendida por um indivíduo, de 23 anos, residente em Sangalhos, que está a ser julgado pela alegada prática de um crime de homicídio por negligência por, alegadamente, ter matado a sobrinha, de cinco anos, e ferido duas outras crianças, num acampamento de ciganos, em Oliveira do Bairro. Suspeitas recaem no tio Os factos remontam à noite do dia 13 de Agosto de 2001, pelas 21 horas, quando uma criança de 5 anos foi morta com um tiro de caçadeira e outras duas atingidas por chumbos. As suspeitas recaem no tio da criança que, naquela noite - segundo a acusação - estava com os irmãos a beber vinho e começou a disparar tiros para o ar, sem ter tomado qualquer precaução, atingindo três crianças que estavam sentadas à beira de uma fogueira. O arguido, José Monteiro, de etnia cigana, defendeu, na primeira sessão, que estava inocente e garantiu ao colectivo que os disparos que mataram a criança foram efectuados por estranhos que estavam dentro de um carro na estrada - localizada a mais de 100 metros do local da tragédia - que dá acesso ao acampamento. Ao longo da manhã, o juiz do Tribunal de Oliveira do Bairro e o Procurador Adjunto do Ministério Público deslocaram-se ao acampamento de ciganos, já desactivado, na presença do arguido e de uma testemunha. No local, José Monteiro garantiu novamente ao juiz que os tiros que mataram a sobrinha vieram da estrada. A balística
Na sala de audiências, João Cortesão, perito em balística, explicou que os tiros disparados, a partir da estrada, nunca matariam a menor. “A 100 metros de distância e com o tipo de arma utilizada, os chumbos não tinham força sequer para furar um cartão”, referiu João Cortesão. Perante o relatório da autópsia, que revela que a vítima morreu com múltiplos ferimentos na face, João Cortesão sublinhou ainda não ter dúvidas de que o tiro foi disparado a cerca de 20 metros da vítima, fazendo assim cair a tese defendida pelo alegado homicida. Entretanto, o Procurador Adjunto do Ministério Público pediu para ser extraída uma certidão com as declarações da testemunha Cristina Monteiro, irmã do arguido, com vista à instauração de procedimento criminal pela prática de um crime de falsidade de testemunho. Assim como mandou notificar um homem, de etnia cigana, residente em Quintãs, Aveiro, que poderá ajudar a desvendar o crime, pois este terá presenciado os trágicos acontecimentos, ocorridos naquela noite.
Pedro Fontes da Costa pedro@jb.pt |