“Fui” até à “minha” Escola e encontrei-a diferente. Está triste, muito triste. As pessoas aborrecidas e desgastadas. Aquela Escola já não parece a mesma. Os professores, que antes conhecia alegres, brincalhões, generosos e disponíveis, vejo-os agora, friamente cumpridores, cabisbaixos, resmungões, desconsiderados e maltratados quase como peças de uma máquina enferrujada e velha. Estão a deixar de ser professores para ser tornarem meros funcionários do ensino que, refira-se, não é o mesmo que educação. Desde já sugiro: o Ministério, chamado da Educação, deverá passar a chamar-se do Ensino? (talvez nem tanto!) Todos conhecemos a controvérsia que anda pelas Escolas deste país. Também sabemos que os professores são injustamente considerados por muita gente como um bando de malandros que nada quer fazer. Sinto-me nesta guerra. Devo confessar que sempre dei à Escola muito tempo para além dos horários, sempre me empenhei generosamente nas actividades da Escola, sempre me dediquei de corpo e alma aos projectos que não traziam qualquer recompensa. Toda a gente sabe que os professores de E.M.R.C. são muito solicitados para determinados trabalhos, e que os Conselhos Executivos também sabem muito bem a que portas podem bater. E não somos, felizmente, os únicos. Há (havia) muita dedicação, espírito de serviço e generosidade nas nossas Escolas! Confesso que, nesta altura, noto que a realidade está alterada. Não é pela obrigação de estar na escola horas a fio, nem é pelo desejo de manter ocupados os alunos cujos professores estão a faltar, mas é pela forma como tudo isto está a acontecer. Desde há muito tempo que sou defensor de que os professores devem realizar todo o seu trabalho da Escola na escola, o que lhes proporcionaria irem para casa descansados, com tempo para a família e para outras actividades de âmbito social e cultural; sou defensor de que os alunos não andem na escola “à solta”, mas sejam acompanhados em tarefas autenticamente educativas e de apoio ao estudo; mas também defendo que os alunos deviam sair de escola com a maior parte do seu trabalho realizado, pois, muitos deles, passam na escola, diariamente, quase dez horas. Se a estas horas juntarmos o tempo dos transportes? Sou a favor, sim, senhor. Concordo com a lei e com a presença dos professores na escola. Porém, as nossas escolas não foram feitas a pensar nisso. Tornaram-se, praticamente, armazéns de professores e alunos, onde não existem espaços físicos adequados a uma nova situação. Salas de estudo, além da Biblioteca, salas de convívio, salas de lazer educativo? onde é que elas estão? Gabinetes de estudo e trabalho devidamente preparados para os professores não existem. Ambiente de concentração e condições de trabalho intelectual são perfeitamente inexistentes! ? O que vemos é uma sala de professores que é, simultaneamente, tudo: horas e horas a olhar para a paisagem, convívio, barulho, estudo, serviço de bar e espaço de espera para a chamada de serviço? Como é possível? Isto faz enlouquecer! Abençoados os que são capazes de se abstrair de tudo isto e conseguem trabalhar aí! Admiro-vos! Eu não consigo! As substituições, teoricamente certas, transformam-se, na prática de as fazer, em verdadeiros desajustamentos e perdas de tempo e energias, para professores e alunos, talvez por tudo ser feito em cima dos joelhos não se sabe de quem, mas garantidamente de gente que não está no terreno. Esta situação, repito, para mim positiva, fica-se pela negativa, porque me parece ter como objectivo uma superficial e ridícula imitação do que acontece no verdadeiro ensino particular, onde a educação e o ensino não são actividades meramente empresariais. Mas há ainda outro problema que não está devidamente equacionado: E aos alunos que não escolheram aulas de Educação Moral e Religiosa que lhes acontece? É que estes não têm substituições, pois não?! ? Está assim aberto um caminho para o novo ano. Faço-me entender? Mas isto é apenas um parêntesis. Por favor, não transformem a missão educativa do professor na frieza de uma máquina de ensino. Padre Costa Leite |