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15-11-2005

Educação em bolandas


Editorial

Neste fim-de-semana, assisti a uma entrevista da actual ministra da educação, Maria de Lurdes Rodrigues, num dos telejornais. Falava ela de alguns problemas do seu pelouro e naturalmente das greves que se preparam, ou da inevitabilidade das mesmas.

Pareceu-me uma senhora segura do que falava e com ideias do que tem que refazer no seu ministério.

E esse é logo um primeiro handicap.

Muitos ministros vão refazer o que já estava construído ou planeado. Na convicção da bondade das suas medidas, muitos ministros acabam por andar a fazer reformas e contra-reformas constantes. Contribuem assim para o descrédito do sistema e para o desalento dos professores, alunos e pais.

Basta pensar um pouco. Olhar para os alunos que fomos (por ex: para os da minha geração que estão na casa dos quarenta) e pensarmos um pouco de quantas reformas fomos alvo no nosso tempo e de quantas mais soubemos que os nossos filhos já experimentaram.

Essa é na minha opinião a principal causa do falhanço educacional do nosso País. Não houve, depois do estado novo, um rumo estratégico definido. Não quer dizer com isto que achasse a educação dos anos quarenta ou cinquenta um “must”, mas pelo menos havia um rumo, um ideia, uma estratégia e naturalmente dela houve consequências. A III República ainda não conseguiu nestes 30 anos de democracia criar um modelo, refazer um ideia da educação que quer para todos nós. A nova república entretém-se, sistematicamente, em gerir conflitos com os sindicatos, com os alunos, com as listas de colocação, com os pais e, no fundo, em ser tão ou mais corporativista que o dito estado de Salazar.

Esta é a sensação que fica, quando, por exemplo, a ministra afirma que vai encerrar 512 escolas de reduzida dimensão e “onde o nível de repetentes é muito superior à média nacional”. Logo os sindicatos se revoltam perante a evidência de ficarem mais uns quantos professores no desemprego, aparentemente indiferentes aos problemas das crianças, que frequentam essas escolas com um ou dois alunos e em que naturalmente nunca usufruirão das vantagens de uma escolaridade com colegas e condições condignas. Também não conheço qual o plano da ministra para transferir essas crianças e garantir a dignidade desse processo.

Um outro assunto, que tem andado na berra, são as chamadas aulas de substituição. Os “feriados” ou os “buracos “ nos horários escolares tornaram-se, mais do que uma inevitabilidade incompetente uma instituição nacional. Não favorecem ninguém e só beneficiam a cabulice, a desorganização nas escolas e motivam o ócio dos alunos.

Mais uma vez, a Sra. Ministra interveio, obrigando os professores a estarem nas escolas e preencherem os tempos das faltas dos seus colegas com estadias nas aulas. Logo se altercam vozes lembrando que um professor de inglês não tem conhecimentos para substituir um de grego ou de matemática, etc. Que diabo! É assim tão difícil apenas fazer estudo acompanhado, obrigando os alunos nessas horas a estudar uma qualquer matéria que precisem. António Granjeia*
*Administrador do Jornal da Bairrada


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