O cinema africano vai ser divulgado numa mostra que, na segunda quinzena de Novembro, dará a conhecer em quatro cidades portuguesas um conjunto de 31 filmes, onde se incluem 18 ficções e 13 documentários. A primeira Mostra do Cinema Africano decorre de 15 a 26 de Novembro em Almada e Lisboa, mas prolonga-se até ao final do mês nas extensões de Aveiro e Torres Novas. O festival vai reunir trabalhos de 25 cineastas de 14 países e colocará o público em contacto com línguas tão distintas como o português, francês, inglês, árabe, bambara, crioulo, pepel ou wolof. A exibição das películas vai estar centralizada em Almada - onde a livraria FNAC, o Fórum Romeu Correia e o Museu da Cidade vão acolher projecções - mas outras entidades associaram-se ao evento e vão exibir produções. É o caso da Faculdade de Ciências e Tecnologia (Lisboa), do Teatro Aveirense (Aveiro), do Cine-teatro Virgínia (Torres Vedras) e da Cinemateca Portuguesa, onde terá lugar uma homenagem ao realizador tunisino Férid Bougedhir. "As cinematografias africanas têm um valor específico, não se trata apenas de filmes isolados, mas são pouco conhecidas, mesmo em Portugal, que tem uma forte relação com África", afirmou à Lusa António Loja Neves, um dos directores da Mostra de Cinema Africano. Na opinião de António Loja Neves, "é importante que sejam os próprios realizadores africanos a dar uma visão dos seus países, pois a imagem que nos chega de África está muitas vezes distorcida e apresenta sobretudo aspectos negativos da actualidade". Para contrabalançar, o director da mostra julga importante a abordagem levada a cabo pelo cinema de ficção africano, "que tem ido recuperar raízes históricas anteriores à colonização, raízes que, muitas vezes, nem as novas gerações africanas conhecem". As segundas e terceiras gerações africanas, que já nasceram em Portugal e perderam o contacto com os países de origem da família, estão entre o público-alvo do certame, disse à Lusa Bárbara Valentina, da Tamarindo - Associação para a Promoção e Cooperação Cultural entre os Povos, que organiza a mostra. Apresentar os filmes que se fazem em África e dar dos países africanos de língua oficial portuguesa "uma visão menos ligada à colonização e descolonização, uma visão sem paternalismos" é, segundo a responsável, outras das intenções do festival. Além dos filmes assinados por realizadores africanos, também participa no certame a obra portuguesa "Kuxa Kanema - o nascimento do cinema", de Margarida Cardoso, sobre o surgimento da sétima arte em Moçambique logo após a independência do país, ocorrida em 1975. O objectivo é tornar a Mostra do Cinema Africano num evento anual. Segundo a organização, outros dos objectivos do certame são "discutir os erros, as esperanças, as fragilidades e os sonhos deste jovem e emergente cinema, de um ponto de vista crítico" e contribuir para "fazer face ao sentimento de exclusão social a que grande parte da comunidade oriunda do continente africano está votada". Analisar as formas de financiamento, os meios e os mecanismos de produção dos filmes africanos e demonstrar a relação entre o cinema e o poder político a que os cineastas estavam sujeitos após as independências dos seus países são outras das "metas" do festival. Angola, Marrocos, África do Sul, Senegal, Guiné-Bissau, Burkina Faso, Tunísia, Mali, Moçambique, Argélia, Zimbabué, Cabo Verde são alguns dos países representados na Mostra do Cinema Africano, que conta com o alto patrocínio do Presidente da República e do Alto- Comissário para a Imigração e Minorias Étnicas. Para dia 26 está agendada uma mesa-redonda no Museu da Cidade de Almada, subordinada ao tema "O lugar da imagem na preservação da memória africana". |