As catástrofes naturais sempre invadiram o espaço construído pela Humanidade, ao longo dos séculos. Estudámos, nos bancos da escola, muitos cataclismos naturais, que destruíram cidades e até contribuíram para o declínio de civilizações. Nesta altura, em que passam 250 anos sobre a maior calamidade que alguma vez ocorreu em Portugal - o Terramoto de 1755 - talvez devamos aprofundar os nossos conhecimentos sobre estes fenómenos e reflectir profundamente sobre se a indução das suas causas não poderão ser diminuídas pela própria Humanidade. Lembrar o que se passou há 250 anos talvez seja um princípio “O terramoto fez-se sentir na manhã de 1 de Novembro, no dia de Todos-os-Santos. Relatos contemporâneos afirmam que o terramoto durou, consoante o local, entre seis minutos e 2 horas e meia, causando fissuras gigantescas de cinco metros que cortaram o centro da cidade de Lisboa. Com os vários desmoronamentos os sobreviventes procuraram refúgio na zona portuária e assistiram ao abaixamento das águas, revelando o fundo do mar, cheio de destroços de navios e cargas perdidas. Dezenas de minutos depois, um enorme tsunami de 20 metros fez submergir o porto e o centro da cidade. Nas áreas que não foram afectadas pelo tsunami, o fogo logo se alastrou, e os incêndios duraram pelo menos 5 dias. Lisboa não foi a única cidade portuguesa afectada pela catástrofe. Todo o sul de Portugal, nomeadamente o Algarve, foi atingido e a destruição foi generalizada. As ondas de choque do terramoto foram sentidas por toda a Europa e norte da África. Os tsunamis originados por este terramoto varreram desde a África do norte até ao norte da Europa, nomeadamente até à Finlândia e através do Atlântico, afectando locais como Martinica e Barbados. De uma população de 275 mil habitantes em Lisboa, houve 90 mil mortos. Outros 10 mil foram vitimados em Marrocos. Cerca de 85% das construções de Lisboa foram destruídas, incluindo palácios famosos e bibliotecas, igrejas, hospitais e todas as estruturas. Várias construções que sofreram pouco danos pelo terramoto foram destruídas pelo fogo que se seguiu ao abalo sísmico.”(fonte wikipédia). Este relato impressionante de destruição também aconteceu num passado recente no Cachemira paquistanês e no Natal anterior destruiu todo o sueste asiático. Sempre, ao longo dos séculos, estes cataclismos foram entendidos como desgraças naturais, mas, consoante a civilização, foram-lhes concedidas maiores ou menores intervenções divinas. Começamos hoje a perceber e a estar convencidos, pelos consecutivos furacões que destroem o golfo do México, pelas inundações de Agosto no centro europeu, pelos estudos sismológicos mais recentes, que a interacção humana com a natureza também tem a sua quota-parte na despoletar de alguns destes fenómenos. É assim mesmo. O homem consegue feitos notáveis, descobertas fabulosas, melhoramentos incomensuráveis mas muitas vezes não percebe que pode estar a estragar o necessário equilíbrio que este planeta necessita. Por isso, devemos aproveitar estas desgraças que trazem a dor e o desespero a muitos e considerá-las como oportunidades para melhorar o nosso mundo, estudando mais e tomando medidas que atenuem os seus nefastos resultados. Curiosamente, logo a seguir ao trágico dia de 1 de Novembro de 1755, começou-se curiosamente a fazer um inquérito em todas as paroquias de Portugal, sobre o sismo a mando do Marquês de Pombal. As respostas, que ainda hoje repousam na Torre do Tombo, tornaram-se tão importantes, que há quem hoje considere este relatório como percursor da sismologia. O iluminado, mas déspota ministro de D. José, percebeu que a catástrofe lhe abria um mar de oportunidades e foi a isso que se entregou durante os anos que se seguiram, fazendo a baixa lisboeta tal como hoje a conhecemos. Passado que foi o terror absolutista da época do Marquês, apenas lhe devemos seguir o exemplo de gestor de oportunidades e de intervenção decidida para ver se conseguimos diminuir o efeito devastador destes cataclismos naturais.
António Granjeia* *Administrador do Jornal da Bairrada |