As eleições autárquicas aconteceram no passado dia 9 e trouxeram algumas novidades ao País e à Bairrada. No país, a primeira constatação é a ligeira baixa da abstenção, comparativamente com as eleições autárquicas de 2001, mas o aumento da mesma abstenção se compararmos com as últimas eleições legislativas. Embora as variações sejam ligeiras e se situem na casa dos 60%, é estranho que, para as eleições autárquicas, haja mais abstenção do que para as legislativas. Não entendo muito bem que a dinâmica das nossas terras, o empenho em melhorar os nossos pequenos lugares não mereça um maior empenho cívico e uma mais expressiva votação municipal. A segunda constatação é a grande vitória eleitoral do PSD/PPD frente ao PS e o aumento de coligações vitoriosas PSD/CDS que destronaram igualmente o PS. O partido socialista teve uma grande derrota eleitoral e se isso não é directamente transponível, porque desajustado para o plano nacional, claramente induz um sentimento de revolta e descrédito nas promessas eleitorais não cumpridas pelo Eng. Sócrates. A terceira constatação é o fortalecimento do PCP com 3 câmaras municipais e o aparecimento de 2 câmaras geridas por grupos de independentes. As geridas por independentes foragidos e dissidentes, têm para mim um significado residual. Já as duas autarquias ganhas por movimentos de cidadania podem traduzir e corporizar um movimento de rebeldia política face aos tradicionais partidos. Se bem que tratando-se de casos isolados e provavelmente fruto da incapacidade regenerativa partidária local, eles dão corpo e mostram aptidão dos eleitores para se organizarem e gerirem as suas terras. Resumindo, foi uma grande derrota nacional do partido socialista. Na Bairrada houve duas alterações de peso: a vitória do PSD em Oliveira do Bairro e a do PS em Águeda. De resto, todos os outros concelhos mantiveram a mesma gestão partidária. Todos os governos autárquicos ou nacionais têm um tempo, um ciclo e muitas vezes (ou quase sempre) esse ciclo corresponde a um rosto. Os eleitores decidiram não só trocar de protagonistas como iniciar um novo ciclo de poder, devolvendo ao PSD o governo da autarquia, passados 16 anos, em Oliveira do Bairro. Em Águeda, o PS destronou anos de governo social-democrata, abalado por consecutivos desgastes com mudanças abruptas de presidentes e também com o arrastar do processo no Tribunal, muito por culpa do poder social-democrata da altura. Nada de mais natural e democrático, portanto. A democracia exige transformações de tempos em tempos, exige clarificações de processos e modificações de pessoas. O povo entendeu que a alteração de políticos por si só não era suficiente, preferindo diversificar estratégias de desenvolvimento e políticas concretas de actuação. O povo eleitor normalmente não atribui mandatos absolutos nas mudanças de ciclos políticos. Desta vez e embora com maioria absoluta na Câmara de Oliveira do Bairro, o PSD não tem a maioria na Assembleia Municipal enquanto o PS ficou apenas a 232 votos de eleger um vereador (em 2001 eram necessários 761). É neste quadro político de mudança que Mário João Oliveira vai governar a Câmara Municipal de Oliveira do Bairro. Tendo naturalmente uma forma de pensar e de agir bem diferente da do anterior presidente, saberá entender, naturalmente, que muitas das anteriores obras e estratégias tiveram o apoio maioritário da população. Cremos, pois, que Mário João Oliveira irá progressivamente afirmar o seu novo tempo, a sua nova marca à frente dum concelho decisivo para o futuro da nossa Bairrada. |