No rescaldo do incêndio que deflagrou, nos passados dias 18 e 19 do corrente mês, na freguesia de Avelãs de Cima, cuja área ardida foi de cerca de três mil hectares de floresta, a Câmara Municipal de Anadia, através da Protecção Civil do concelho, e os Bombeiros Voluntários de Anadia (BVA) deram a conhecer todos os passos que foram efectuados para extinguir um incêndio que podia ter tido outras proporções, caso o Plano Municipal de Emergência não tivesse sido activado, poucas horas depois do início do fogo. Autarca defende bombeiros Na conferência de Imprensa foi visível algum mau estar por parte do comandante dos bombeiros, Dias Coimbra, os quais foram acusados de não terem feito tudo para combater as chamas. Litério Marques, presidente da Câmara Municipal de Anadia, e também responsável pela Protecção Civil do concelho, diria que, “da nossa parte, fizemos o melhor possível. O Plano de Emergência Municipal foi accionado imediatamente, por volta das seis da manhã e, no terreno, apercebi-me logo que era necessário fazer evacuações, dada a exiguidade de meios”. Depois de dizer que, desde a primeira hora, ajudou o comandante dos BVA, e falar do apoio dos populares, que foram os grandes defensores do que havia para defender, Litério Marques mostrou-se corrosivo com algumas situações: “Os meios eram poucos, pedimos por mais de uma vez apoio aéreo, que tardou em chegar, o que nos deixou impotentes para dominar a situação”, acrescentando que “só faltou uma coisa. Não houve coordenação e, embora fossem chamados meios terrestres, não foram coordenados convenientemente”. O autarca anadiense mostrou-se ainda desagradado com outra situação: “Vi políticos concorrentes às eleições a acompanhar o incêndio que mais parecia um espaço de montra, quando a situação era catastrófica. Tratou-se de um aproveitamento político, onde só faltaram os slogans”. Embalado, e noutro contexto, em defesa dos bombeiros, Litério Marques diria que “não posso admitir que os BVA venham a pagar em termos de credibilidade, de responsabilidade, que eu não os posso responsabilizar. Se não tivessem evacuado, porque têm conhecimento da zona, Candieira, Ferreirinhos, Matas e Coutada, não sei o que seria. Dentro dos meios disponíveis, os BVA fizeram tudo, mas mesmo tudo, para controlar o mais rápido possível a situação”. Dia Coimbra, depois de explanar todos os passos seguidos, deixou duas notas: “Não admito que isto se transforme num acto político. Os bombeiros estão afastados da política, e o comandante dos BVA está ao lado do presidente da Câmara Municipal de Anadia. Para o bem e para o mal”. O comandante dos BVA referiu que o Plano Municipal de Emergência, activado durante a madrugada, quando o incêndio lavrava a mais de 100Kms/hora, “funcionou em pleno. Houve, sim, um problema de comando. Solicitei meios aéreos por inúmeras vezes. Enviaram-nos bombeiros de Espinho, da Murtosa e Estarreja, mas nunca os vi. Diz que ficaram retidos em Bustelo (Águeda). Com os poucos meios de que dispunha, fui eu que fui lá, ajudar no concelho de Águeda, e ainda nos retiram alguns, como foi o caso de Oliveira do Bairro”. Dias Coimbrareconheceu que os meios foram insuficientes, embora constantemente solicitados ao Centro Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Aveiro: “Solicitei os meios aéreos de manhã, só apareceram de tarde. Se tivessem chegado mais cedo, o fogo não teria consumido metade da área florestal da freguesia de Avelãs de Cima”. Notava-se algum descontentamento no rosto de Dias Coimbra, pelas críticas de alguns populares à actuação dos BVA: “A Associação dos Bombeiros está a ser enxovalhada. Quem acusa os bombeiros de Anadia está a ser injusto, não é sério. Trabalhámos no limite, com um pé na morte e outro na vida. Criticam os bombeiros de erros técnicos? Tacticamente e estrategicamente, digam-me onde houve erros?, questionou Dias Coimbra, que não aceita que se faça aproveitamento político da situação. Sobre a troca de comando, Litério Marques diria que “quem conhece melhor a sua casa é o próprio dono, neste caso Dias Coimbra”. O autarca adiantou ainda que era importante dar este esclarecimento às populações. Com tanta gente a falar e a aparecer no terreno, o presidente da Câmara Municipal diz que “não foram da nossa responsabilidade, da Câmara, Protecção Civil e BVA”.
Manuel Zappa |