Celebrou-se, este ano, a 12 de Setembro, o 60.º aniversário sobre a assinatura da Carta de São Francisco, que levou à criação das Nações Unidas. Os valores nela defendidos permanecem ainda hoje tão válidos e actuais como na década de 40. Muitas guerras e crises passadas, os objectivos da Organização das Nações Unidas, mesmo que acordados no rescaldo dos pós II Grande Guerra, mantêm toda a sua pertinência. A manutenção da paz e da segurança internacionais, o desenvolvimento de relações de amizade entre as nações, baseadas no respeito pelo princípio da igualdade de direitos e da autodeterminação dos povos, promovendo e estimulando o respeito pelos direitos do Homem e pelas liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião, continuam hoje tão válidos como o eram à data da sua criação. Como bem avisou Adriano Moreira, as Nações Unidas são hoje o único fórum ou areópago em que é possível o encontro de todas as nações da Terra. Esse desígnio é talvez a mais importante realização da ONU. Por muito mal que se fale da ONU, ou se desdenhe da sua forma de actuar, a organização provou, à evidência, como hoje é insubstituível. Mas não é menos verdade, como bem lembrou o Prof. Diogo Freitas do Amaral, em declarações que ouvi na rádio, que a organização de que foi presidente da Assembleia Geral, há dez anos, não muda com a velocidade com que se alteram as nações que a compõem. Se os valores permanecem, o mundo mudou profundamente. É natural, portanto, o desejo do secretário-geral em avançar com as necessárias reformas para modificar os mecanismos que permitam aplicar tais princípios. Essa transformação é essencial, mas mais uma vez não foi conseguido o necessário consenso mundial. É, pois, neste contexto e cenário de desânimo e descrença, que a ONU comemora o seu 60.º aniversário. Vimos assim o presidente do Irão afirmar a sua vontade para prosseguir o programa nuclear, a incapacidade de gestão do conflito do Médio Oriente, a continuada emergência das mais baixas formas de exploração humana no extremo-oriente, os falhanços nas missões de paz no Darfour africano, etc... Apesar de tudo, o saldo da ONU é positivo e já não conseguimos imaginar a política mundial sem o dissipador de potenciais conflitos em que a organização de especializou. É por isso natural desejar que se a organização não consegue mudar mais depressa, como impõe o Mundo, pelo menos que não pare e prossiga no movimento de pequenas reformas seguras e firmes.
António Granjeia* *Administrador do Jornal da Bairrada |