O secretário de Estado da Indústria e Inovação afirmou ontem, durante a inauguração do primeiro parque biotecnológico do país, em Cantanhede (Coimbra), que o crescimento económico só é possível com cooperação e recursos humanos qualificados. "Se, por um milagre, de um momento para o outro, fosse possível resolver o problema das finanças públicas, a minha convicção é que não teríamos as bases para esse crescimento", afirmou António Castro Guerra, na inauguração do Centro de Inovação em Biotecnologia (BIOCANT). Sublinhando que o crescimento económico "não depende apenas de mais investimento e mais mão-de-obra", o governante apontou os recursos humanos qualificados e a cooperação entre entidades como o caminho a seguir. Para António Castro Guerra, a situação actual do país explica- se por não ter sido feita, "depois do 25 de Abril, uma aposta sistemática na qualificação de recursos humanos". "Gastou-se muito dinheiro, mas não qualificámos recursos. Fomos pouco eficazes nesse domínio", sustentou. O governante considerou que Portugal tem vindo a "laborar num erro", que é o de apontar ao Estado "a culpa de todos os males e a solução de todos os problemas". "O Estado não pode ser o carrasco e, ao mesmo tempo, o salvador. Esta equação não tem solução possível", criticou o secretário de Estado, sublinhando o exemplo do BIOCANT - nascido da cooperação entre a autarquia de Cantanhede e a Universidade de Coimbra (UC), entre outras instituições, públicas e privadas - como "o princípio da destruição do mito do sebastianismo". "Hoje, claramente, temos aqui o início de uma realidade nova que tem de ser multiplicada pelo país fora. O crescimento faz-se em regime de cooperação, Portugal precisa disto, não tem tempo a perder com iniciativas de entropia negativa" frisou. Já Euclides Pires, do Centro de Neurociências e Biologia Celular da UC, sublinhou que, entre as especificidades do projecto, está o facto da componente científica e técnica preceder ao betão, aludindo à formação prévia de recursos humanos qualificados. "O betão construiu-se num ano, mas a preparação de recursos humanos levou anos" explicou. O investigador universitário disse ainda que o Biocant vai funcionar em colaboração com empresas, "apoiando projectos de inovação", mas também associando-se a novas empresas "que saem de incubadoras e têm dificuldade em se afirmar no mercado". Jorge Catarino, presidente da Câmara de Cantanhede, recordou a história da criação do BIOCANT, destacando, a exemplo de Euclides Pires, a importância dos recursos humanos. "Não construímos o edifício à espera de aparecer alguém para o ocupar. Tínhamos a massa crítica e o capital humano", afirmou. O Centro de Inovação em Biotecnologia engloba um núcleo de 24 investigadores e duas empresas das áreas da genética e biologia. Entre os objectivos da equipa de investigação do BIOCANT está o desenvolvimento de um inovador "chip" que permita uma mais rápida detecção da predisposição genética para a doença cardíaca (miocardiopatia hipertrófica) que vitimou o futebolista do Benfica, Miklos Feher. Outro dos objectivos passa pela identificação de substâncias presentes na flora mediterrânica para o futuro desenvolvimento de medicamentos contra a doença de Alzheimer. As duas empresas que se associaram nesta fase ao projecto são a Crioestaminal, que se dedica à preservação das células estaminais presentes no cordão umbilical, e a STAB Vida, responsável pela sequenciação do primeiro genoma em Portugal. O edifício de dois pisos e 2.000 metros quadrados hoje inaugurado custou cerca de cinco milhões de euros e está equipado com avançados laboratórios de biotecnologia molecular e celular, genómica e microbiologia JLS. |