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14-09-2005

Salão pequeno para tanto público


Oliveira do Bairro

Cerca de 200 pessoas assistiram, na tarde do último sábado, à apresentação da mais recente publicação do escritor oliveirense, Armor Pires Mota, que também exerce a função de chefe de redacção do Jornal da Bairrada.

O evento teve lugar no salão nobre da Junta de Freguesia do Troviscal e serviu ainda para prestar uma singela, mas merecida homenagem, a todos os ex-presidentes de Junta de Freguesia.

“Um grande serviço ao concelho”

Com o salão nobre da Junta de Freguesia a rebentar pelas costuras - tantos foram os que não quiseram faltar à apresentação de mais uma obra de Armor Pires Mota - a vasta plateia teve não só um primeiro contacto com a obra (no final foram oferecidos 150 volumes, que não chegaram para os pedidos) como também se pôde deliciar com brilhante intervenção feita pelo professor catedrático, Luís Machado de Abreu, da Universidade de Aveiro, apresentador da obra.

Na mesa de honra, que presidiu à cerimónia de lançamento desta monografia, que integra 550 páginas sobre a freguesia do Troviscal, para além do autor da obra, Armor Pires Mota, sentaram-se ainda a docente universitária (natural do Troviscal) Idália Sá Chaves, o apresentador da obra Luís Machado de Abreu, o autarca Acílio Gala, presidente da Assembleia Municipal Vítor Rosa e Adelino Cruz, presidente da Junta de Freguesia do Troviscal, que, no final, prestou homenagem a todos os ex-autarcas que o antecederam.

Mas, naquela que foi uma das últimas aparições públicas do autarca Acílio Gala - em final de mandato -, este começou por relembrar a todos os presentes, entre os quais o comendador Almeida Roque (amigo de longa data do autor e cidadão honorário do concelho de Oliveira do Bairro) que “estamos aqui presentes para prestar serviço ao Troviscal, ao concelho e à Bairrada”, enquanto que, sobre o livro diria tratar-se de “um trabalho de investigação” e “uma obra que surgiu porque autor e município entenderam que o Troviscal tinha de contar a sua história”. Reconhecendo o contributo dado por Armor Pires Mota, ao longo de várias dezenas de anos, no engrandecimento e enriquecimento cultural do município, diria que “o senhor prestou e tem prestado um grande serviço ao concelho”.

“Obra dá a conhecer a riqueza humana, cívica e cultural da freguesia”

Responsável pela publicação de nove obras sobre o concelho, esta nova obra de Armor Pires Mota “que sem nada pedir em troca, dedicou dois anos da sua vida à sua elaboração”, é, segundo Luís Machado de Abreu, uma obra que nos dá a conhecer “a riqueza humana, cívica e cultural de uma freguesia a que não faltam motivos de auto-estima, tão relevantes foram e continuam a ser, no plano regional e até nacional, alguns dos seus filhos e dos seus feitos associativos. Um contributo importante para procedermos à autognose de grandezas e fragilidades, de avanços e recuos, de conquistas e falências no percurso do povo que somos.”

Acílio Gala aproveitaria ainda a presença de muitos troviscalenses, munícipes e convidados, para tecer alguns elogios a algumas das muitas personalidades presentes.

Por seu turno, Idália Sá Chaves, também docente na Universidade de Aveiro, que falou do vastíssimo curriculum de Luís Machado de Abreu “homem de cultura, doutorado em Filosofia e a coordenar a linha de investigação que estuda o anticlericalismo português”, não deixou de sublinhar o facto de se tratar de uma obra que “é apenas uma visão da história, até, porque, ninguém é senhor de produzir a história”, avançando ainda que o maior contributo desta obra se prende com o facto de ser “mais uma visão das coisas, que irá enriquecer outras visões”, uma vez que esta obra, embora pioneira (primeira do género sobre a freguesia do Troviscal) “abre portas e novas possibilidades a outros estudos.”

“Obra da inteligência e fruto do coração, numa entrega amorosa ao trabalho”

Luís Machado de Abreu que admitiu ser “um desconhecedor quase absoluto das coisas do Troviscal”, revelou ter decidido aceitar o convite e fazer a apresentação da obra “exactamente porque não conheço nada do Troviscal”.

Assim, sobre a obra abordou três aspectos (notas) que considerou serem relevantes: o cuidado epistemológico na elaboração escrita da obra; o exercício da afectividade a que se entregou o autor na elaboração da obra e a sua atitude de lealdade histórica, política e cultural.

Sobre a primeira nota (cuidado epistemológico) avançou que “o autor teve uma preocupação de respeitar as regras do saber histórico e fê-lo utilizando os documentos de arquivo” (nem de outra forma seria possível inventariar o passado histórico), “num grande trabalho de investigação documental que parece estar bem conseguido”, realçando ainda os inquéritos realizados por Armor Pires Mota às pessoas mais antigas da freguesa.

O docente universitário realçou ainda o facto do autor ter “toda a preocupação de utilizar um método de trabalho em que, sabiamente, parte do elementar para o todo, ou seja, parte do que é uma peça para a integração que essa peça deve ocupar no mecanismo histórico global”, sublinhando ainda tratar-se de “uma proposta de visão sobre o Troviscal (uma perspectiva) que não pretende ser uma visão final, dando pistas a futuros investigadores que queiram renovar e refazer esta visão sobre o Troviscal.”

Relativamente à afectividade, disse tratar-se de “uma manifestação muito bela de afectividade: “Vê-se que é alguém que ama o que está a fazer e que tem ligações afectivas às realidades do Troviscal”, destacando uma explicação dada pelo autor, logo na abertura da obra: “mais do que nunca a escrita foi para mim feminina e ela aqui fica como uma brisa,” indicando tratar-se de “uma obra da inteligência e fruto do coração, numa entrega amorosa ao trabalho e à realidade sentida como sua.”

Sobre o último aspecto - lealdade na polémica -, Luís Machado de Abreu falou da obra (550 páginas) de história, que “aflora aqui e ali situações que terão alguma componente de polemismo”, frisando, em concreto, “um conjunto de peripécias desta terra que originaram grande tensão local e mesmo nacional” - Banda e República do Troviscal - em que o autor, ao longo de aproximadamente 100 páginas, fala destas, com pormenor.

Ao terminar a sua apresentação, o docente da Universidade de Aveiro explicou que o facto de não existir qualquer conclusão se prende com o facto de “cada leitor que atentamente se debruce sobre o livro deverá tirar a respectiva conclusão, já que a leitura desta obra contraria e serve de remédio ao que a etimologia escreve sobre o topónimo Troviscal: terra mater que não é venenosa, mas saudável; que não é amarga, mas doce,” “num livro que trará novas razões para se gostar e amar esta terra que é o Troviscal”.

Gentes do Troviscal: “deverão sentir-se orgulhosas do seu passado e mais seguras de um futuro mais prometedor”

A terminar o autor, Armor Pires Mota, após os agradecimentos da praxe (Professor doutor Luís Machado, Idália Sá Chaves, Acílio Gala, Mons João Gonçalves Gaspar, Padre José Belinquete, Adelino Baptista, Paulo Lourenço, Célia Pinhal, António Briosa, Adriano Tomé, Manuel Quintaneiro, Manuel Alferes Rodrigues de Carvalho, Armelim Francisco Pinhal, Conceição Pinhal, Rosalina Filipe, Aida Viegas, António Peixoto), entre muitos outros, avançou que “o que é este livro, está escrito no resumo da obra, designado por “Duas palavras”, mas também explícito, ao longo das suas páginas, arrancadas à força de querer vencer, a todo o custo, angústias sangrando subitamente à tona dos meus passos.”

Reconhecendo não ter sido tarefa fácil escrever este livro, sobretudo “no que toca à parte histórica, por falta de documentação nos arquivos paroquial ou do distrito de Aveiro”, também reconhece que esta é (a sua) visão histórico-cultural do Troviscal, um livro incompleto e imperfeito, “que deixa a porta sempre aberta para outros continuarem a investigação” sobre os aspectos de ordem rural e comunitária, histórica e cultural, da freguesia.

Mas, reconhecendo que “agora, como sempre, vão surgir, naturalmente os que, nada tendo feito neste campo, se arvorarão em sabedores de tudo e de nada, como acontece noutras situações”, avançou que “na parte mais polémica deste livro - o capítulo intitulado “ A República do Troviscal” - aceito que outros possam ter outra leitura. Esta é, naturalmente, a minha, alicerçada em documentação, até hoje, não revelada em parte alguma... portanto, ao arrepio do que tem vindo a soar o campanário”.

Sobre o Troviscal, Armor Pires Mota diz ter passado a “ conhecer melhor e a admirar as suas gentes, que, por sua vez, lendo estas páginas, deverão sentir-se orgulhosas do seu passado e mais seguras de um futuro mais prometedor, tanto quanto eu sinto orgulho em tê-las servido culturalmente.”

Catarina Cerca

Obras publicadas pelo autor sobre o concelho

1991 - “Oiã - Terras e Gentes” (monografia)

1993 - “Mamarrosa Milenária” (monografia)

1996 - “Oliveira do Bairro: Chão de Memórias, Usos e Costumes” (recolha de usos e costumes)

1998 - “Oliveira do Bairro: Em busca da História Perdida”

1999 - “Oliveira do Bairro: Santa Casa-vida e obra”

2001 - “Jornal da Bairrada - Meio Século ao serviço da Região”

2001 - “Falcões do Cértima nas Asas da Memória”

2002 - “Oliveira do Bairro - Alma e Memória” (monografia)

2003 - “75 anos: Bombeiros Voluntários de Vagos”

2005 - “Troviscal: visão histórico-cultural” (monografia)


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