A totalidade do território português está em situação de seca extrema e severa, refere o relatório relativo à segunda quinzena de Julho, que regista uma pequena diminuição da área em seca extrema e uma subida da seca severa. Em 31 de Julho, 100 por cento do território está em situação de seca com intensidade extrema e severa, situação já verificada na primeira quinzena do mês, mas com uma pequena diminuição da situação da seca extrema (a mais gravosa), que baixou de 80 para 73 por cento. "A seca severa aumentou de 20 por cento para 27 por cento, no mesmo período", diz um comunicado oficial relativo ao último relatório da Comissão para a Seca 2005. De acordo com o relatório, "a situação em 31 de Julho de 2005 é, quanto à área afectada nas classes de seca severa e extrema (100 por cento) a mais grave dos últimos 60 anos", tendo o valor mais aproximado sido registado em 1945, com 77 por cento. O novo relatório foi analisado quarta-feira pelos secretários de Estado do Ambiente, Humberto Rosa, Adjunto e da Administração Local, Eduardo Cabrita, e do Desenvolvimento Rural e das Florestas, Rui Gonçalves, durante a habitual reunião quinzenal da Comissão para a Seca 2005, destinada a avaliar os dados da segunda quinzena de Julho e a tomar as medidas adequadas. "Constatou-se que os valores da quantidade de precipitação acumulada desde 01 de Outubro de 2004 até 31 de Julho de 2005 não sofreram alteração significativa e continuam muito inferiores aos valores médios, apesar de se ter registado ocorrência de precipitação entre os dias 24 e 28 deste mês (Julho) em todo o território, em especial no Litoral Norte e Centro e no Algarve", refere o comunicado oficial. No último relatório, relativo à primeira quinzena de Julho e publicado no passado dia 20, a Comissão referia que a seca extrema afectava 80 por cento do território, sendo os restantes 20 por cento considerados em situação de seca severa. O novo relatório indica que 33 das 35 estações de monitorização de barragens e albufeiras registam um comportamento desfavorável, pois apresentam "escoamentos inferiores à média". "Nas albufeiras começa a verificar-se os efeitos da sua utilização mais intensiva de acordo com o que é normal, com expressão mais significativa na bacia hidrográfica do rio Mondego, com redução de 4,2 de volume armazenado na quinzena, mantendo-se a generalidade das bacias hidrográficas com armazenamentos abaixo da média, excepção feita à bacia do rio Ave", lê-se nas conclusões do relatório. O documento destaca ainda que no abastecimento urbano continua a haver alguns reservatórios de sistemas públicos de abastecimento que servem cerca de 53 mil pessoas a serem abastecidos por auto-tanques. A generalidade das entidades responsáveis pelo abastecimento público urbano com problemas nas origens de água mantêm medidas de contenção de consumos, designadamente campanhas de sensibilização, redução de pressão nas redes, cortes esporádicos de fornecimento, entre outras medidas, destaca o documento do INAG. As medidas de contenção de consumos através de reduções nos períodos de abastecimento, foram referidas por 25 municípios, afectando 52.965 pessoas. Os municípios são Aguiar da Beira, Alcácer do Sal, Alcoutim, Almeida, Armamar, Arouca, Baião, Fafe, Ferreira do Alentejo, Gavião, Gouveia, Loulé, Manteigas, Mértola, Miranda do Corvo, Moimenta da Beira, Odemira, Sernancelhe, Serpa, Tabuaço, Tarouca, Valpaços, Viana do castelo, Viera do Minho e Vimioso. Os dados fazem prever, de acordo com o relatório, que as solicitações de abastecimento com recurso aos corpos de bombeiros irão ter "algum incremento em Agosto", ao mesmo tempo que as autoridades de saúde continuam a vigiar atentamente a qualidade sanitária da água para consumo humano. "As situações que nesta quinzena mostram carecer de medidas de intervenção excepcional de maior relevo encontram-se nos concelhos abastecidos pelo sistema do Sotavento algarvio, nos quais foi instalado um programa de acção concertado de modo a compensar as reduções de captação de água que é necessário realizar nas albufeiras de Odeleite e Beliche, para reservar água para 2006", acrescenta. No domínio das actividades agrícolas e pecuárias, as previsões dos efeitos da seca apontam para quebras de produtividade dos cereais de Outono/Inverno, como já indicava o anterior relatório. A cultura do arroz não registou alteração de área em relação campanha anterior na Beira Litoral e no Ribatejo e Oeste, mas reduziu para metade no Alentejo. Para o milho de regadio, o documento estima em 22 por cento a quebra da área semeada, relativamente ao ano anterior, sendo de 30 por cento no Ribatejo e Oeste, principais regiões produtoras. As quebras de área de batata de sequeiro e de regadio "são significativas", enquanto a cultura em regadio apresenta diminuições de produtividade diminutas, que atingem no máximo 15 por cento em Trás- os-Montes e 12 por cento na Beira Interior. Na actividade de produção de energia hidroeléctrica mantém-se a avaliação da quinzena anterior, situando-se em cerca de 45 por cento o nível de armazenamento das albufeiras. Sobre os efeitos da seca nas actividades empresariais, em geral, e no turismo, em particular, o relatório refere não dispor de dados que permitam a sua avaliação. "A situação de seca e os reduzidos volumes de água armazenados em algumas albufeiras conduziram à impossibilidade de utilização de quatro albufeiras para efeitos de abastecimento de aviões anfíbios de combate aos incêndios florestais", adianta ainda o documento. Das novas medidas propostas, foram concretizadas a remoção da biomassa viva nas albufeiras onde o risco de morte de peixes é mais elevado - Enxoé, Funcho, Vale de Gaio, Vigia e Lucefecit -, bem como a elevação do nível de vigilância sanitária e alerta sobre a qualidade da água para consumo humano. Das medidas concretizadas constam ainda uma campanha nacional de sensibilização para o uso eficiente da água, através da comunicação social e por correio directo aos cidadãos. |