Na edição 1749 do nosso jornal da Bairrada escrevi sobre o aumento do petróleo e as suas causas próximas. Na altura em que escrevi esse editorial, faz agora um ano (14 de Julho de 2004), o barril de petróleo negociava-se a 40 dólares. Passado um ano, o preço do ouro negro aumentou 50%. Atingiram-se, na semana passada, os 60 dólares por barril. Infelizmente, previ o cenário. As causas na origem deste aumento mantêm-se: a excessiva sujeição da civilização ocidental ao petróleo, a escassez do produto, a incapacidade de aumentar significativamente produção mundial, tanto devido ao desinvestimento na prospecção de novos locais como em novas refinarias. As causas políticas também parecem não ceder e tanto os conflitos armados quer na região do Golfo, quer o caldeirão fundamentalista em que se alimentam, não dão mostras de abrandar. Também, passado um ano, os problemas subjacentes agravaram-se: as razões ambientais nefastas evidenciam-se exponencialmente e, infelizmente, na razão inversa das soluções encontradas. A queima de combustíveis fósseis, que liberta dióxido de carbono, provoca o efeito de estufa e o aquecimento global do planeta. Lembrei, na altura o estudo SIAM fase II sobre as alterações climáticas previstas para Portugal. Convém relê-lo (http://www.siam.fc.ul.pt ) e meditar bem sobre o assunto até porque alguns dos prognósticos tornaram-se bem reais: os incêndios florestais e a seca que vivemos; Economicamente esta dependência é tanto mais clara quanto o petróleo, um produto finito, vai escasseando e o aumento da procura lhe vai elevando o preço. Ora em Portugal a situação ainda é mais complicada porque, como todos sabemos, não temos nem cheiro a petróleo. Apenas o compramos, pelo que a nossa dependência é absoluta. Recuperando o que então escrevi: Só temos então um caminho. Alterar a dependência do petróleo. Como não se modifica esta situação por decreto de um qualquer governo, deveremos contar com a imaginação, o invento humano e a exigência de políticas públicas neste sector: por um lado exigir o empenhamento concreto da administração pública na conservação energética, criando incentivos à poupança e fiscalizando, com punição, do desperdício. Por outro lado, incentivando a investigação e a procura de novas soluções e alternativas. Portugal deve considerar uma tarefa nacional empenhar o seu maior esforço neste desígnio, até porque é dos países mais dependentes e sem alternativas. Investir em novos produtos e métodos energéticos é agora porque quase ninguém o faz. Custa dinheiro, mas trará dividendos no futuro. Mas estas políticas, que esperamos dos executivos europeus, também têm que alterar comportamentos no povo. Não podemos querer energia mais barata sem custos a outros níveis. Seremos obrigados a optar. Não podemos querer energias mais acessíveis e vetar por sistema a construção de barragens, parques eólicos ou de marés só porque fica feio, estraga umas gravuras ou mata umas árvores. O aquecimento do planeta vai acabar com tudo isso muito mais depressa do que pensamos. Portanto, temos que fazer escolhas e optar pelos impactos menos desfavoráveis.
António Granjeia* *Administrador do Jornal da Bairrada |