Um presidente de junta e técnico de contas contrariou hoje a acusação e sustentou em Tribunal a versão do ex-deputado Cruz Silva (PSD) de que a sua empresa, a Unicola, forneceu tintas que facturou à Câmara de Águeda. Manuel Correia Marques, presidente da Junta de Freguesia de Recardães e que foi técnico de contas da Unicola, foi uma das testemunhas ouvidas hoje pelo Tribunal de Águeda, que está a julgar o presidente da Câmara de Águeda, Castro Azevedo (PSD), Cruz Silva, ex- deputado da Assembleia da República, o presidente da Junta de Freguesia de S. João da Madeira, Joaquim Costa Mateus (PSD), e mais quatro empresários. Respondem pelo crime de peculato (desvio ou má administração de dinheiro por pessoa encarregue de o guardar ou gerir) e por falsificação de documentos, por terem alegadamente lesado o Município em mais de 250 mil euros, nos finais da década de 90, através de fornecimentos fictícios de materiais, designadamente tubos, tintas e colas. Segundo a acusação,a Unicola, empresa que pertenceu ao antigo deputado Cruz Silva, facturou à autarquia fornecimentos de tintas e colas que nunca chegaram a ser feitos, o mesmo se passando com remessas de tubos de outra empresa de S. João da Madeira. Manuel Correia Marques, que enquanto técnico de contas colaborou com a Unicola, confirmou hoje ao Tribunal que em 2002 incluiu nas contas da empresa vendas a dinheiro relativas aos fornecimentos à Câmara e Serviços Municipalizados. O produto da venda desses materiais terá sido retido por Cruz Silva e encaminhado para acudir a dificuldades da empresa, que viria a fechar, nomeadamente para pagar a fornecedores e a funcionários, sendo a situação regularizada posteriormente pelo ex-deputado, que inclusive terá feito entrega de cerca de 13 mil contos para regularizar os impostos devidos, relativamente a essas vendas a dinheiro. Manuel Correia Marques confirmou também, enquanto presidente da Junta de Freguesia de Recardães, que a Câmara de Águeda entregou à Junta tintas oriundas da fábrica de Cruz Silva, que foram aplicadas em melhoramentos na freguesia, nomeadamente na pintura do cemitério local. Outro testemunho importante foi o de António Manuel Almeida, igualmente técnico de contas da Unicola, que antecedeu Correia Marques nessas funções. Disse ao tribunal que as vendas a dinheiro relativas aos alegados fornecimentos à Câmara e aos Serviços Municipalizados apresentavam valores superiores à facturação normal da empresa. Quanto ao mais mostrou-se desconhecedor porque "ia duas vezes por ano à empresa e o que sabia era pelos papéis", desconhecendo se a Unicola tinha aplicadores para as tintas que fornecia ou se requisitava esse serviço a terceiros. Durante o dia de hoje o tribunal ouviu também um responsável pelos armazéns da Câmara de Águeda, o qual garantiu que os materiais descritos nas vendas a dinheiro da Unicola "não foram requisitados" pelo serviço de que era responsável, sem contudo poder precisar se foram ou não fornecidos à Câmara porque não detinha o controlo das entregas. O julgamento prossegue dia 21 com a audição de mais testemunhas, estando marcados já os dias 05, 06, 07 e 08 de Julho para as audiências seguintes. |