Nos anos setenta e oitenta do século XIX, desenvolveu-se, na Beira Litoral, um fenómeno de religiosidade popular que levava, todos os anos, grupos de pessoas a banharem-se no mar, nos rios ou em certas nascentes na noite de 24 de Junho.

Tratava-se de verdadeiras romarias que, na região de Águeda, conduziam as multidões à praia da Barra, na crença de que o banho da meia-noite valia por trinta.

Em 1883, saíram daquela cidade «muitos barcos completamente cheios de indivíduos de todas as idades e condições», como se lê no Soberania do Povo. Respondiam também ao apelo da festa, que se estendia pelos areais, com bailes e repastos.

Nesse tempo, a fama das águas da Curia cresceu muito entre a população da Bairrada e da Gândara. Tornaram-se correntes os banhos nas suas nascentes, nomeadamente «a horas mortas da noite», como refere Albano Coutinho, o decisivo impulsionador das termas no início do século XX. A conhecida cura do professor Patoilo, ocorrida nos anos oitenta, resultou de um banho na noite de São João.

A Sociedade das Águas da Curia deu continuidade a este movimento popular, organizando festas que incluíam iluminações à veneziana e a gás acetileno, fogo de artifício, arraial e, como é natural, banhos nocturnos. Em 1909, ainda houve festejos, mas nos anos seguintes desapareceram, por serem economicamente inviáveis.

É esta tradição perdida que o Rotary Club Curia-Bairrada, com o apoio da Sociedade das Águas da Curia, APPACDM, Baluarte, Câmara Municipal de Anadia e outras instituições, pretende retomar nos próximos dias 24 e 25.

Assim, no dia 24, sexta-feira, haverá no Parque Termal, a partir das 19 horas, uma feira de artes e ofícios dos concelhos de Anadia e Águeda, um espectáculo teatral pelo grupo Baluarte (com a representação de uma peça original alusiva às origens da Curia) e banhos nocturnos. No dia seguinte, sábado, a feira estará aberta a partir das 14 horas e à noite exibir-se-ão as marchas populares.

Nuno Rosmaninho