Como já vem sendo usual, a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Anadia (AHBVA) já se encontra nas rua, a prestar assistência aos muitos milhares de peregrinos que, ao longo destas duas primeiras semanas de Maio, se deslocam, a pé, para Fátima. Em pleno IC-2, na Malaposta, onde muitos dos caminhantes - vindos no norte do país - chegam exaustos, são prestados, neste posto de primeiros-socorros, montado pelos Voluntários de Anadia, vários cuidados primários de saúde. Aqui são tratadas várias maleitas do corpo, já que o espírito, esse, movido por uma enorme fé e devoção, vai sendo alimentado por orações à Virgem de Fátima e aos Pastorinhos. “Fazemo-lo com o espírito da mensagem de Fátima” À semelhança de anos anteriores, a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Anadia (AHBVA), que integra o “Movimento da Mensagem de Fátima”, tem montado, entre os dias 3 e 10 de Maio, junto ao Restaurante “O Zé”, na Malaposta, em pleno IC-2, um posto de assistência a peregrinos. Um local procurado por várias centenas de peregrinos e, que, ao longo dos anos (e já lá vão 30 anos), se tem transformado num ponto de referência, uma vez que, em muitos quilómetros de estrada, é o primeiro posto de auxílio a aparecer. “Fazemo-lo com o espírito da mensagem de Fátima”, revelou a JB Mário Teixeira, presidente da direcção da AHBVA, justificando a prestação deste auxílio numa tradição que tem ajudado a aliviar o sofrimento a milhares de peregrinos na sua caminhada para Fátima. Ainda que de uma forma improvisada, socorrendo-se de uma tenda, a verdade é que, os Voluntários de Anadia e um grupo de senhoras voluntárias da comunidade anadiense se mudam de “armas e bagagens” para este local que, com o passar dos anos, se transformou num ponto de paragem obrigatória, após algumas centenas de quilómetros percorridos a pé e, na maioria dos casos, com grande sacrifício. ”Trata-se do local mais central, uma vez que entre Águeda e Anadia não existe mais nenhum posto de auxílio”, avançou a JB Mário Teixeira, não deixando de sublinhar que, “embora abra às 8.30 horas, só encerra depois das 21 horas, altura em que passam os últimos peregrinos do dia”, reconhecendo que “os postos existentes no percurso até Fátima não são os suficientes”. Na sua opinião, “deveriam ser mais”, contudo, lá vai admitindo que “a Cruz Vermelha e a Cruz de Malta têm vindo a desempenhar todos os esforços no sentido de fazer a melhor cobertura possível”. Cuidados gratuitos Os cuidados aqui prestados aos milhares de caminhantes são inteiramente gratuitos e prestados por uma equipa de voluntários (médicos, enfermeiros, bombeiros e pessoas anónimas) que limpam e tratam as feridas, sobretudo nos pés. “Nos dias de maior movimento, que coincidem, este ano, com o fim-de-semana (6,7,8 de Maio) a média de atendimentos chega a ultrapassar os 200 peregrinos”, revelou-nos um dos bombeiros anadienses ali presente. Também a JB a Irmã Margarida, enfermeira do Hospital Distrital de Anadia, sublinhou que os tratamentos mais solicitados passam pelos tratamentos aos pés e lava-pés, pensos vários, curativos a bolhas, massagens musculares e medição de tensões arteriais. Tarefas prestadas por esta equipa de voluntários que consegue ser (graças também à experiência já adquirida) bastante dinâmica, animada e bem disposta. Características que todos reconhecem serem fundamentais para dar ânimo e reconfortar os mais frágeis e que aqui chegam mais debilitados, sobretudo, aos que vêm de mais longe (Valença do Minho, Monção, Paredes de Coura, Porto, Ermesinde, Guimarães, Vila do Conde, Penafiel, Paços Ferreira, V.N.Gaia, Famalicão, Valongo, Marco de Canavezes, Grijó, Santo Tirso), incluindo peregrinos de paragens mais distantes. A título de curiosidade diga-se que, este ano, este posto foi “brindado” pela visita/paragem, no dia 5, de um septuagenário de Roma (Itália) com 70 anos. De bicicleta, este peregrino, de longas barbas, veio de Santiago de Compostela, passou por Fátima com rumo a Lurdes. Um exemplo apenas, entre muitos outros que surgem todos os anos. “Gente de todas as classes e condições” Angelina Santos, uma das voluntárias anadienses presentes no apoio aos peregrinos não deixaria de sublinhar que “este ano, devido ao falecimento do Santo Padre, é possível que venha mais gente a Fátima”, sendo igualmente visível que “as pessoas começam a ter mais cuidado, estando mais sensibilizadas, melhor preparadas para os cuidados a ter durante a viagem (tipo de calçado e meias que devem utilizar, número de quilómetros a fazer por dia).” No entanto, alertaria que, mesmo assim, ainda é frequente ver pessoas a exceder o limite de caminhada - 30 quilómetros/dia - havendo quem ande cerca de 50 quilómetros, “chegando aqui num grande estado de exaustão e cansaço”. Nesta assistência aos peregrinos, os Bombeiros de Anadia contam ainda com o apoio de todas as farmácias do concelho, que, tal como tem acontecido em edições anteriores, fornecem gratuitamente vário tipo de materiais e medicamentos utilizados (luvas, seringas, adesivos, ligaduras, tintura de iodo, betadine, gaze, algodão, cremes). Uma colaboração que se estende ainda à Sociedade das Águas do Luso que oferece garrafas de água que são distribuídas pelos peregrinos. Outra curiosidade o facto de, ano para ano, aparecerem mais jovens e pessoas provenientes de classes sociais e formação mais elevadas: “antigamente via-se muita gente do campo. Hoje, vêm-se gente de todas as classes e condições sociais que nos contam relatos impressionantes (sobretudo doenças) que as obriga a cumprir a promessa de ir a Fátima a pé”, constatou Mário Teixeira ao nosso jornal.
Catarina Cerca |