A II Grande Guerra Mundial terminou na Europa, há 60 anos. Comemorou-se, no passado fim-de-semana por toda a Europa beligerante, com pompa e solenidade o dia em que o exército vermelho de Estaline entrou em Berlim e que, marca para a história o fim das hostilidades no velho continente. Franceses, Holandeses e Britânicos fizeram honras aos seus mortos para que a memória do que viveram não se apague mais. Moscovo assinalou também com uma grandiosa parada militar, quase como nos tempos da “outra senhora de lá”, o empenhamento russo no combate ao nazismo. As campanhas militares terminaram, poucos meses depois, sob os infelizmente necessários horrores nucleares de Hiroshima e Nagasaki (a cidade dos portugueses no Japão). As alianças estratégicas e necessárias da guerra puseram a combater dois tiranos imundos, responsáveis por décadas de terror na Europa. A vitória contra o nazismo, como ontem disse Putin na praça dianteira ao Kremlin, não foi dos aliados nem dos russos (na altura soviéticos) mas, sim, de uma coligação anti-hitleraniana. Nada de mais correcto. Mas sobre os louros da vitória, a Europa viu construir uma imensa cortina de ferro e a subjugação dos povos de todo o Leste europeu às mesmas mãos do ditador Estaline e dos que se lhe seguiram no comando soviético da pátria russa. É sintomática a recusa dos dirigentes das antigas repúblicas soviéticas do Báltico em integrar o lote dos dirigentes que assistiram à gloriosa parada militar moscovita. Também eles não esquecem o que passaram e o que foi a “conveniência” do pós-guerra para o dito Mundo Ocidental. A guerra-fria que arrefeceu todo o mundo, após 1945, acabou, felizmente, cozida na temperatura dos gritos das revoltas esmagadas pelas lagartas dos tanques na antiga Checoslováquia e pelo ardor da lutas sindicais da Polónia de JP II. Vivemos hoje, sessenta anos volvidos e com um saldo de quase 60 milhões de mortos o final da II Grande Guerra numa Europa e num Mundo completamente diferentes no plano geopolítico e económico, mas que vive outro tipo de ameaças também de cariz totalitário como o terrorismo e a ascensão de fundamentalismos vários. Os desafios na Europa vivem-se hoje no dia-a-dia. A Europa que soube construir o bem-estar, principalmente nos países do norte, vive hoje as encruzilhadas da edificação de uma casa comum e do alargamento a leste. A burocracia, o poder dos mais fortes, aliado à emergência das tradicionais potências continentais europeias, fazem parte do caldeirão em que hoje se tempera e manipula a chamada constituição europeia. Gaspieri, Adenauer e Shuman (os pais fundadores da Europa), que desejaram uma casa europeia comum, e até talvez uma federação de estados nação, devem hoje dar voltas nos seus túmulos, quando os laicos democratas retiraram da “constituição” as referencias à matriz cristã da nossa cultura milenar e que é inerente à forma como vivemos no ocidente. Esta Europa que construímos, vive ainda os desafios da desigualdade e da exploração entre nacionais dos estados membros, como observamos nos portugueses explorados nas lojas inglesas, nos campos da Estremadura espanhola ou na construção civil da Galiza. Esta Europa, vive também no fio da navalha, no que concerne às relações com os outros poderes do mundo quando ela própria não consegue unificar uma política externa coerente e única como se viu no caso do Iraque. Por isso, mais do que estarmos preocupados, em aprovar uma constituição de 400 páginas (só mesmo para “burro”cratas) que ninguém dos que vai votar leu ou lerá antes do referendo, importa dizer aos políticos europeus que se entendem sobre causas menores e sejam mais pragmáticos. É que muita complicação e pouco esclarecimento levam ao aparecimento de ditadores de ocasião que nos poderão trazer mais problemas do que Hitler.
António Granjeia* *Administrador do Jornal da Bairrada |