Numa organização conjunta do Centro de Saúde de Anadia e da Coordenação Concelhia para a Alcoologia, teve lugar, no passado dia 27, no auditório da Estação Vitivinícola da Bairrada, em Anadia, um curso de alcoologia, dirigido a professores do 1º, 2º e 3º ciclos de ensino. Um evento que contou com a colaboração do Centro Regional de Alcoologia do Centro (CRAC), já que coube ao seu director, Augusto Pinto, orientar a acção de formação que contou com a presença de mais de meia centena de participantes, não só do concelho de Anadia, mas também de Vagos. “Problemática que afecta muitas famílias na região” Esta acção de formação, promovida no âmbito do projecto para o triénio (2004/2006) da Coordenação de Alcoologia do Centro de Saúde de Anadia, teve como principal objectivo transmitir conhecimentos no âmbito dos problemas ligados ao álcool, sensibilizando os docentes para a prevenção do alcoolismo. De acordo com Dr. José Carlos Ribeiro, médico e Coordenador Concelhio de Alcoologia, “os professores desempenham um papel importante na preparação dos jovens para a vida em sociedade”, razão pela qual “esta acção pretende fomentar alguma reflexão e, se possível, alguma mudança de conceitos, atitudes e comportamentos”, acrescentaria. O curso, que se prolongou por todo o dia (das 9 às 17.30 horas), incluiu uma abordagem sobre vários aspectos do álcool (substância) e dos problemas de saúde, ligados ao seu consumo, quer ao nível individual, quer comunitário, com ênfase para a sua dimensão de problema de saúde pública, culturalmente enraizado e aceite, dependente da interacção dos binómios “produção-consumo” e “oferta-procura”, realçando ainda a situação destacada de Portugal ao nível mundial face à produção, consumo e problemas ligados ao álcool. De acordo com a enfermeira Lídia Ribeiro, “a acção de formação está voltada para os docentes na medida em que são os elementos essenciais na formação de crianças e jovens”. Por outro lado, acrescentaria, “aqui são convidados a reflectir sobre uma problemática que afecta muitas famílias na região onde o vinho é parte integrante da cultura e economia local.” Providade: “beber sem risco” Segundo o orador, Augusto Pinto, do CRAC, “a alcoologia é um flagelo que a todos diz respeito e não apenas aos técnicos de saúde”, na medida em que “todos devemos colaborar no sentido de eliminar essa problemática da sociedade”. De acordo com este responsável, “morre mais gente devido ao consumo de álcool do que devido à dependência do álcool”, ma medida em que “mesmo quem não consome pode sofrer as consequências de quem consome em demasia”, avançando números de um estudo que apontam que, na região centro do país, a situação é alarmante: existem 230 mil doentes alcoólicos e 500 mil pessoas a consumir álcool em excesso. Neste momento, diria também, a prioridade passa por “fazer com que os nossos jovens possam beber sem risco, saudavelmente”, objectivo difícil na medida em que existe alguma “cumplicidade e silêncios” relativamente a esta problemática e uma “grande relação de amizade e proximidade com o álcool”, para além de sermos “constantemente influenciados a beber pela publicidade que nos entra casa a dentro”. Neste aliciamento, os jovens parecem ser as principais vítimas, pois, de acordo com a OMS - Organização Mundial de Saúde, “um quarto dos jovens europeus que morre entre os 15 e os 29 anos foi vítima do álcool”, diria. Em Portugal, os dados existentes apontam para o consumo de álcool começar por volta dos 11 anos, a que se associam depois situações de insucesso escolar, absentismo e distúrbios comportamentais. Ainda segundo aquele responsável “os jovens bebem cada vez mais (bebidas brancas/destiladas, shots e cervejas) motivados pela necessidade de afirmação, melhorar a comunicação no grupo, evasão”, tendendo a situação a aumentar em “mulheres jovens”. Mais de uma centena de doentes Acrescente-se ainda que a Coordenação de Alcoologia do Centro Saúde de Anadia se encontra a funcionar desde 1999, naquela unidade se Saúde, onde tem lugar as consultas semanais de alcoologia (quarta-feira de manhã) com o médico José Carlos Ribeiro, auxiliado pela enfermeira Lídia Ribeiro e por uma administrativa. Às consultas de alcoologia chegam utentes enviados pelos mais variados serviços (Segurança Social, Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Risco, médico de família, HDA). Neste momento, as consultas são frequentadas por mais de uma centena de doentes que tentam abandonar o álcool. Aqui podem ser tratados em regime de ambulatório ou então através de internamento para desintoxicação no HDA ou no Centro Regional de Alcoologia. Para além das várias terapêuticas possíveis, as consultas motivam as pessoas e sensibilizam-nas para a necessidade de mudar de estilo de vida. As consultas são procuradas, sobretudo por indivíduos do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 30 e os 70 anos. O primeiro passo para a cura passa por admitir a doença, reconhecer a dependência do álcool e querer curar-se. As maiores consequências para a saúde prendem-se com problemas gastrointestinais, neurológicos entre muitos outros. De acordo com o médico, José Carlos Ribeiro, “em Anadia passa-se o mesmo drama que no resto do país, mas à escala local”, acrescentando ainda que “é preciso ver, aceitar e compreender que a dependência do álcool é como a dependência de uma droga qualquer”, aliás “um pai nunca deve aceitar que o filho beba, nem dizer, prefiro que o meu filho beba do que se drogue. É a mesma coisa”. Dado o sucesso desta iniciativa, tudo aponta para que, no próximo ano lectivo, acções deste género sejam dirigidas à comunidade escolar em concreto. Para já, fica também a certeza que o Centro de Saúde de Anadia pretende fazer uma outra acção, dirigida aos professores, na área do tabagismo, na medida em que no Centro de Saúde de Anadia se encontra já a funcionar, às segundas-feiras de tarde, uma consulta de desabituação tabágica.
Catarina Cerca |