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07-04-2005

À primeira internacionalização juntou-se a emoção


"Identidade Lusa" no Luxemburgo

O Grupo de Folclore Identidade Lusa, de Vila Verde, teve a sua primeira internacionalização, com duas actuações que efectuou no Luxemburgo, nos dias 26 e 27 de Março, tendo ainda visitado a Bélgica. Com isso virou mais uma página da associação, presidida por Nelson Barata. A meia centena de elementos que constituía a comitiva foi recebida em apoteose, nos vários locais por onde passaram, com destaque para a colaboração de vários emigrantes portugueses que tornaram possível todo este processo.

Recepção no C.A.S.A.

Os elementos do “Identidade Lusa” foram recebidos no Centro de Apoio Social e Associativo do Luxemburgo (CASA), no dia 25, sexta-feira, após uma breve visita à cidade belga de Bruxelas.

Foi servido um jantar a toda a comitiva, que foi recebida pelo presidente do CASA, o Comendador José Ferreira Trindade, e ainda por Carlos Correia, Representante da Embaixada Portuguesa, António Neto e António Magalhães, da Liga Portuguesa de Futebol.

No final do jantar, discursaram alguns dos principais intervenientes, com José Trindade a salientar a grande quantidade de jovens que constituem o grupo, salientando o facto de “estas crianças levarem desta experiência coisas que jamais esquecerão na vida”.

Realçou ainda que o objectivo do centro a que preside, o CASA, “tal como a
Igreja Católica, tem como objectivo dar apoio a quem precisa”, tendo ainda como “empenho fazer com que os filhos dos emigrantes portugueses não percam as raízes do seu país”.

Segundo Carlos Correia, “esta iniciativa de levar ao Luxemburgo Grupos de Folclore portugueses, serve para mostrar não só aos portugueses, mas também aos luxemburgueses, esta parte importante da cultura do nosso país”.

Nelson Barata prometeu então que todos os elementos do rancho fariam “todos os possíveis para satisfazer os presentes nas actuações”.

Em Bruxelas

Estava previsto uma actuação na Bélgica, na cidade de Bruxelas, que, no entanto, não foi possível calendarizar, optando-se por fazer apenas uma breve visita à capital da União Europeia.

Esteticamente brilhante, a cidade belga, que reúne por diversas vezes os principais líderes europeus, teve a visita do rancho bairradino, que, por sua vez, vislumbrou algumas das maiores obras da arquitectura mundial, como é o caso da “Grand Place”, considerada a praça mais bonita do mundo, ou da “Cathedrale des Saints Michel et Gudule”, construída no século IX.

Cerca de três horas foi o tempo que durou a visita, que terminaria mais cedo que o previsto, dada a necessidade de regressar à capital luxemburguesa, onde a comitiva seria recebida por algumas personalidades ilustres.

Actuação na “Place d’Armes”

Sábado, dia 26, foi o dia da primeira actuação no estrangeiro do jovem grupo. Após um pequeno último ensaio, que serviu para afinar os últimos pormenores, o grupo partiu para o restaurante “Lisboa II”, situado na cidade do Luxemburgo, onde lhes foi servido um almoço, oferecido por Carlos Anacleto, proprietário do restaurante, seguindo, depois, para a “Place d'Armes, onde teria lugar então a primeira actuação do “Identidade Lusa”.

O Rancho Folclórico de S. Martinho da Gandra, Ponte de Lima, abriria o espectáculo, seguido então do rancho bairradino, que, mesmo com uma qualidade de som deficiente, motivada pela pouca quantidade de microfones e pelas más condições da aparelhagem, conseguiria ainda assim realizar uma actuação de grande nível, com as várias centenas de espectadores presentes a manifestarem-se satisfeitos, demonstrando bem as saudades e a alegria que sentiam no momento.

Um grande número de emigrantes portugueses estava presente no local, onde assistiu às actuações dos dois ranchos.

Arminda Conceição, no Luxemburgo há 34 anos, natural da Caneira (Vila Verde), salientou a propósito a “alegria que a vinda do «Identidade Lusa» trouxe aos emigrantes bairradinos”, deixando transparecer alguma surpresa pelo “elevado número de jovens que constituem o grupo”, o que, segundo ela, “é muito positivo para não deixar morrer esta tradição”.

Na enorme praça, situada no centro da capital luxemburguesa, cruzavam-se etnias e culturas, com público proveniente desde os países mais ocidentais até aos mais orientais.

Jantar animado

Após a actuação vespertina, o grupo bairradino deslocou-se para o “Restaurante Barros”, onde Zeferino Barros Oliveira, proprietário do estabelecimento, ofereceu o jantar a toda a comitiva.

Como agradecimento, o “Identidade Lusa” acabaria por fazer uma pequena actuação, que inicialmente seria de apenas três danças, mas que, dada animação que se gerou entre os presentes, o grupo acabaria por dançar o dobro.

No final, os elementos do rancho entregaram aos anfitriões uma lembrança, seguindo-se um breve discurso de Nelson Barata, que comparou o sonho dos emigrantes que partem em busca de uma vida melhor com o sonho que o grupo realizou, ao deslocar-se ao estrangeiro.

O presidente do rancho afirmou ainda que “não há palavras”, numa clara alusão a “tudo o que foi feito pelo Zeferino Barros, no sentido de ajudar o rancho”.

Actuação simplesmente brilhante

Domingo, dia 27, foi o dia da última actuação. Ao final da manhã, o Grupo Folclórico Identidade Lusa actuou na sala de festas “Prince Henry”, onde lhes foi servido um almoço, que serviria de “aperitivo” para o festival, que viria a decorrer de seguida, com duração até à noite.

O festival organizado pelo Grupo Folclórico da Mocidade Portuguesa, contou com as actuações do “Identidade Lusa” e do Rancho Folclórico de S. Martinho da Gandra, Ponte de Lima.

Para além dos dois grupos que viajaram de Portugal, actuaram ainda oito ranchos, sediados no Luxemburgo, entre eles o rancho anfitrião, constituídos em grande parte por imigrantes portugueses.

Esta foi a mais imponente das actuações do rancho bairradino, no estrangeiro, devido às excelentes condições criadas, quer pela qualidade de som, quer pelo ambiente que vibrava no extenso salão, totalmente cheio, com várias centenas de emigrantes portugueses, provenientes não só do Luxemburgo, mas também de países como a Alemanha, França e Suiça, a não perderem esta oportunidade, para matarem saudades do torrão natal.

Ricardo Costa, ensaiador do grupo português, afirmou mesmo que “por vezes, até julgava estar em Portugal”, tal era o ambiente lusitano que vibrava.

Na altura de aplaudir, o grupo de Vila Verde terá sido mesmo aquele que teve uma maior ovação, o que diz bem da satisfação daquelas centenas de emigrantes.

Conceição Garrido (Madame Garrido como era conhecida), 56 anos, presidente do Grupo Folclórico da Mocidade Portuguesa, há 27 anos no Luxemburgo, foi a grande impulsionadora do festival.

Com uma postura incansável, a organizadora dividia o seu tempo entre o bar do festival e as pequenas cerimónias que iam decorrendo, chegando mesmo a ir fazer a entrega de prémios com o avental à cinta.

Ainda assim, Madame Garrido não perdeu oportunidade para elogiar o grupo bairradino, afirmando-se “muito satisfeita com tanta juventude a manter a tradição portuguesa, porque infelizmente, hoje em dia, a juventude já não procura muito o folclore”.

Terminava assim a primeira aventura internacional do “Identidade Lusa”, com presidente Nelson Barata a fazer um balanço muito positivo, afirmando mesmo que “foi um sucesso”.

O presidente do rancho vilaverdense fez questão de salientar o facto de “termos sido o grupo mais aplaudido”, lembrando ainda que “veio gente de vários países para nos ver”.

Perspectiva terrestre

Com partida pelas 7 horas do dia 23 de Março, aproximadamente 32 horas foram suficientes para a comitiva do Grupo de Folclore Identidade Lusa percorrer os cerca de dois milhares de quilómetros que nos separam do Luxemburgo.

Várias paragens necessárias ao longo do percurso contribuíram para uma maior demora na viagem, mas contribuindo, por outro lado, para que a meia centena de elementos da comitiva tivesse oportunidade de desfrutar mais de perto das belas paisagens espanholas e francesas, quase idílicas, que circundam todo o trajecto, campos verdejantes bem tratados, também percorrido por milhares de emigrantes ao longo dos tempos.

Assim, quaisquer incómodos físicos, provocados pelas más posturas, a que os bancos de autocarro obrigavam, eram relegados para segundo plano, quer pela ânsia de chegar ao destino, quer pelas paradisíacas paisagens.

Campos de golfe enormes, entre outros complexos desportivos com condições de primeira linha, demonstravam também, neste campo, as abissais diferenças que ainda prevalecem entre o nosso e aqueles países.

O longo caminho percorrido permitia também outros factos de realce, como era o bom ambiente que se vivia durante toda a viagem, que certamente não seria tão intenso no caso de o percurso ter sido percorrido de avião.

O que eles pensam?

João Branco e Ricardo Costa, com 17 e 19 anos, respectivamente, são os dois ensaiadores do grupo, acumulando ainda outras funções. Para além de serem ambos também dançarinos, o primeiro é vice-presidente e o segundo é o tesoureiro.

Na opinião dos dois ensaiadores, “o Folclore ajuda a divulgar a cultura, sendo também importante para que os jovens aprendam a viver em sociedade, porque é esse o nosso objectivo e o facto de conhecermos muita gente e fazermos muitas amizades nestas deslocações, contribui muito para atingirmos essa meta”.

Soraia Neves e Cátia Pinto são duas primas, que têm como particularidade o facto de serem os dois elementos mais jovens do grupo. A primeira, com oito e a segunda com sete anos, ambas, apenas com um ano de ensaios, são unânimes, quando questionadas sobre aquilo que as movia a integrar o rancho: “Gostamos muito de dançar e temos aqui um grande grupo de amigos”.

Paulo Pinto é dançarino, e, aos 20 anos, é um dos elementos que integra o grupo desde o início. “Num Verão deu-se o primeiro ensaio do rancho, no campo de futebol em Vila Verde, onde presenciei e gostei muito do que vi, o que fez com que entrasse”.

Afirmando-se “incapaz de abandonar este rancho”, Paulo Pinto realçou o facto de “ser um grupo muito especial, também por que foi onde comecei, mas, principalmente, porque é como uma família, uma segunda casa”.

Também dançarina é Ana Barata, filha de Nelson Barata (presidente do «Identidade Lusa»), que dá igualmente o seu testemunho, afirmando que “antes de entrar para o rancho, achava isto uma coisa sem interesse, mas estava enganada, por que, cá dentro, vemos as coisas de maneira diferente e eu adoro o grupo”.

O que eu vi?

Tive oportunidade de comprovar que uma associação, dirigida por jovens, consegue ter uma dinâmica e um bem estar fora do comum, o que acaba por fortalecer o espírito e a humildade que reina no seio do grupo.

Tal como o comendador disse numa das suas declarações, também na minha opinião, esta experiência jamais será esquecida por todos os envolvidos.

Desde o convívio durante as viagens, até a cooperação que houve entre todos os elementos para que, durante as actuações, tudo corresse pelo melhor, recordo as lágrimas de uma jovem que no final da última actuação, se sentia culpada por ter errado dois passos, durante todo o espectáculo (!), o que demonstra bem o empenho de todos.

Outro facto que me tocou profundamente foi ver a alegria de todos os emigrantes, durante ambos os espectáculos, perante a presença dos compatriotas, transparecendo um grande ar de saudade, ao estarem naquela que é “a situação em que mais nos sentimos portugueses, a de emigrantes”, como lembrou o Padre Belmiro, na recepção da comitiva no CASA.

Afinal, acabaram por ser também eles os grandes impulsionadores, que permitiram ao “Identidade Lusa” estar presente, porque sem a ajuda de emigrantes como o Comendador José Trindade, como Zeferino Barros, ou Carlos Anacleto, entre outros, não seria possível, proporcionar a estes jovens tais experiências, pelo menos da mesma forma. Assim, a conclusão que se pode tirar, é que se ajudaram mutuamente.

Falei da dinâmica que tem uma liderança composta por jovens, mas não posso deixar de lembrar outros, não tão jovens, mas com papel crucial para assegurar um equilíbrio e estabilidade no seio do grupo, como são o presidente Nelson Barata, ou Luís Branco, entre outros, que é importante não esquecer, porque facilmente tive oportunidade de verificar o empenho com que lutam para atingir esse equilíbrio.

Todos, incluindo os próprios motoristas da Câmara Municipal de Oliveira do Bairro, que acompanharam o grupo, deram o melhor de si, para proporcionar aos jovens uma experiência que será sem dúvida inesquecível. Renato Duarte


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