Em tal situação, chegou a mostarda ao nariz do nosso senador Kennedy, que decidiu quebrar o gêlo, e pedir, alto e bom som, que os soldados comecem a regressar ao país. E outras vozes vão ouvir-se em breve, afinadas pelo mesmo diapasão. E é engraçado que, no meu ultimo artigo do Portuguese Times, eu tocava o mesmo assunto. Em resposta a um auto-colante que anda por aí, pedindo que se apoiem as tropas, eu sugeria um auto-colante com o dístico :”Apoiemos as tropas. Que elas regressem a casa. Já !”.

Seria estultícia da minha parte, julgar ter havido uma transmissão de pensamento, ou que o senador tenha lido os meus rabiscos. Claro que não. O senador nem sequer se lembra que eu existo, apesar de há mais de 40 anos, termos tirado uma fotografia juntos, na redacção do extinto “Diario de Noticias” de New Bedford. De qualquer modo o sr. Kennedy, que não tem papas na língua decidiu desafiar o toiro de caras e arrostar com as consequências . E ontem, num discurso aos alunos da faculdade de Estudos Internacionais da Hopkins University, fez rebentar a bomba da retirada das tropas. E a reacção imediata dos conservadores, não foi demasiado adversa. Eles sabem que a guerra do Iraque, não tem futuro. A não ser que, por uma questão de prestigio, como a maior potencia militar do mundo, decidirmos continuar a queimar vidas nas areias do Islão, e a abrir uma dívida tao funda como o Grand Cannion.

Disse Kennedy que a presença das forcas americanas no Iraque, está inflamando as chamas da guerra, que pelo menos 12 mil soldados deviam regressar já, e que a evacuação total devia terminar ate ao fim de 2006. Como era de esperar, o portavoz do Comité Nacional Republicano criticou o tom, que disse ser “péssimista” do discurso de Kennedy, e que ele o tenha proferido apenas dias antes das eleições no Iraque. Disse o senador de Massachusetts: “Devemos estabelecer um plano que apresente objectivos justos e realistas para o futuro do Iraque, com vista à retirada honrosa das nossas tropas “.

Por sua vez os democratas aplaudiram o plano de cinco pontos de Kennedy, o qual inclui uma maior intervenção das Nações Unidas, aumento de esforcos diplomáticos no Mundo Arabe, e o treino de um, exército iraquiano até ao fim do ano. A propósito, Tony Lake, ex-conselheiro para a segurança nacioinal, no governo do Presidente Clinton, disse : “Em todas as situações, o senador Kennedy tem estado certo nas suas predições àcerca da guerra. E está certo agora, tambem,quanto a solução que apresenta.”

Como se vê, o que custa e dizer a primeira palavra.Ultrapassar o tabu , e a concepção de que nos somos sempre os melhores do mundo, e que os “outro”,pertencem ao “Vil Empire.”Mas agora, que Kennedy mostrou o caminho a seguir, o côro das vozes pedindo a retirada em tempo oportuno, e o mais rápido possivel, vai engrossar. Foi assim na guerra do Vietna,. ´e parece que o mesmo vai acontecer agora.A não ser que as eleições deste Domingo, consigam mostrar aos iraquianos, o caminho da paz e da democracia, o que não será fácil, entre gente para quem a democracia e um animal estranho, inimigo do fundamentalismo islâmic.,O que podera resultar , é um governo teocrático, idêntico ao qie esta no Irão, pois a eleição só pode beneficiar a maioria shiita, prejudicando as minorias sunnis e kurda.E com gente findamentalista, não é fácil tratar. Gente disposta a sacrificar a vida em nome do seu Deus, é gente perigosa, auto-convencida da sua verdade absoluta. E contra” bombas-suicidas”, nada podem as nossas” bombas-inteligentes”. Manuel Calado* *Jornalista nos EUA