As eleições terminaram com o escrutínio do voto dos portugueses. As urnas ditaram uma enorme vitória do Eng. Sócrates e do Partido Socialista, uma subida clara da esquerda extremista e também uma grande e clara derrota centro direita no seu conjunto. Felizmente, que desta, vez não houve derrotas morais nem vitórias de Pirro. Houve até quem assumisse até com inesperada dignidade uma derrota colateral. Mandam as regras da democracia reconhecer as vitórias dos agora vencedores, para que, amanhã, estes reconheçam as vitórias dos agora vencidos. Os portugueses na sua sabedoria e consciência decidiram entregar pelo voto os destinos da governação nacional ao Partido Socialista. O PS atingiu os seus principais objectivos eleitorais e políticos, enquanto que todos os seus adversários não. Em democracia não existem vitórias melhores ou piores, existem apenas aquelas que os portugueses decidem atribuir. E foi apenas isso que o Partido Socialista teve e nada mais. O PS teve tudo o que pediu aos portugueses para poder governar bem. Não terá, pois, desculpas nem alibis se tal não vier a acontecer. Terá pois que necessariamente cumprir as promessas eleitorais. Essa é talvez a maior lição que podemos tirar deste resultado. Como melhor não diria Rui Veloso na sua canção “não se ama alguém que não canta a mesma canção”, também na política não se vota em alguém que não cumpre o prometido. Por isso, todos os portugueses vão ficar atentos ao apalavrado choque tecnológico, aos anunciados 150.000 novos postos de trabalho fora da função pública, à nova lei das rendas, ao fim das portagens das Scuts sem aviltar o orçamento, ao aumento das pensões e da idade de reforma em suma à recuperação económica que anunciaram para Portugal. Mas de toda a nova e dura trabalheira que o povo agora impôs ao Eng. Sócrates e seus próximos ministros, ao novo governo vai assacar-se muita contenção. Contenção na escolha dos novos ministros, mas sobretudo, muita calma nos desejos insuspeitos de muitos “ex-qualquer” coisa do tempo guterriano. Mas exigir-se-á também muita cautela na nomeação dos novos "boys". Haverá imensas nomeações e cargos para distribuir, mas haverá ainda mais formas de o fazer correcta e competentemente. Esse será o primeiro teste de Sócrates, mas será sempre bom lembrar que foi no pântano de Guterres que se espalhou o pântano do PS atolado nas exigências dos "boys" e nos favores a pagar. Um primeiro sinal positivo seria a exclusão de Jorge Coelho dos ministeriáveis e a ruptura com alguns interesses instalados personalizados por pessoas próximas da área socialista. Temos, pois, de esperar para ver, avaliar e julgar. Só depois será lícito criticar. Para já, Sócrates começou aparentemente bem ao não divulgar qualquer dos seus ministros antes de ter a equipa completa. Pelo que se sussurra e escorre nos “mentideros” políticos lisboetas parece que pode vir a formar um governo de figuras com credibilidade nacional. Mas estas personalidades podem não significar que sejam executivos dinâmicos e activos como se exige e ligados à pequena parte dos portugueses que realmente produzem. Um outro dilema de Sócrates será a forma como passará para o público a sua governação. Como se diz agora ao marketing do governo. Mas nisso os socialistas têm sido mestres. Vai concerteza governar dentro do que parece que prometeu mas sem grandes condescendências à esquerda parlamentar mais extremista. As pressões para mudar a lei do trabalho, a lei do aborto e da eutanásia, a alteração jurídica do funcionamento dos hospitais vão ser mais que muitas dentro e fora do PS. Vamos ver como cede à tentação de travar os intentos de controlo dos média e da governamentalização das empresas públicas. Vemos ver no essencial se conseguirá continuar a gestão orçamental rigorosa anterior mantendo política de contenção despesista. Não podemos, como diz o povo, ser como o Zé do bronze que ganha dez e gasta onze. O povo português encontra-se naturalmente confiante e seguro de que escolheu bem mas não estará ausente, nem cego, nem surdo.
António Granjeia* *Administrador do Jornal da Bairrada |