O frio "de rachar" é incapaz de arrefecer o empenho das centenas de jovens que "acamparam" junto ao posto da BP da Varidauto, em Aveiro, em busca de um bilhete para ver o concerto dos U2. Nas imediações das bombas de gasolina há gente a tentar dormir embrulhada em mantas e sacos-cama, mochilas munidas do mínimo essencial à sobrevivência, numa longa espera até que os bilhetes comecem a ser distribuídos, o que só deverá ocorrer pelas 10:00 de terça-feira. São já mais de 350 os inscritos, para uma distribuição limitada a 650 bilhetes, o que significa que se cada um comprar os quatro bilhetes a que tem direito, muitos estarão a fazer a espera em vão, ao frio e ao vento. Vera Cabral tem garantido o ingresso para o concerto de 14 de Agosto, no estádio Alvalade XXI, já que é a primeira da lista, entretanto organizada para garantir alguma ordem entre a pequena multidão que aguarda. Chegou às bombas da BP de Aveiro às 02:00 de domingo. Ela e mais três amigos revezam-se para assegurar a posição privilegiada na lista. É de Nogueira do Cravo, Oliveira de Azeméis, e os amigos de S. João da Madeira. Garantem que "por nada deste mundo" estão dispostos a perder o concerto. Os primeiros a chegar "montaram a organização", com a ajuda do posto de combustíveis que forneceu as senhas "numeradas e carimbadas para não haver números falsos". Quem chega dá o nome para a lista e recebe a senha, que tem de exibir a cada chamada, que ocorre de duas em duas horas durante o dia e de três em três durante a noite. Os que não estiverem são riscados da lista, o que justifica o sacrifício de passar noites ao relento com os rigores do tempo. A chamada é feita de um palanque improvisado em bancos de plástico e, à medida que os números são chamados, as pessoas têm de passar para trás das bombas, por entre um trajecto delimitado por pinos que a Varidauto emprestou. Para uma organização "had hoc" o sistema até se tem mostrado bastante eficaz e não tem havido problemas, conforme relataram à Lusa vários fãs dos U2. Sofia Varandas improvisou "o seu quarto" junto à máquina de vender gelo, do lado de fora da loja de conveniência, num ponto que julgou ser suficientemente abrigado. Uma cadeira de praia, algumas mantas estendidas no paralelo do passeio e a mochila a servir de roupeiro são a precária mobília. Prevenida com roupas grossas e um kispo, sem esquecer um cachecol do "seu" Sporting, veio "dormir" à Varidauto com uma amiga de Sever do Vouga, Fátima Baptista, e por ali estão as duas desde Domingo, à espera de vez. "Fechar os olhos tem sido difícil, por causa do movimento. às cinco da manhã ficou muito vento e foi mais difícil suportar o frio", relatam. Quando se pergunta se vale a pena o sacrifício não hesitam: "Por amor de Deus! Os U2 valem tudo. É o melhor grupo de sempre!", justificam. São duas fãs incondicionais e antes de virem para Aveiro já tinham estado no Porto, na FNAC do Centro Via Catarina, durante cinco horas, mas ficaram desoladas porque só havia bilhetes para as bancadas. "Queríamos ir para o relvado e foi por isso que viemos para aqui", explicam. Apesar das condições climatéricas e logísticas, não poupam elogios ao posto de abastecimento de combustíveis. "Isto é um hotel de cinco estrelas. O pessoal do posto tem sido incansável, sempre a passar por aqui a ver se é preciso alguma coisa e colocaram um CD dos "U2" a nosso pedido. Logo até vão tentar pôr aqui uma televisão para vermos o nosso Sporting", elogiam. Têm contado também com o apoio de alguns automobilistas que não pretendem adquirir bilhetes e dão os pontos a quem está à espera. José Luís Marcelino, funcionário da Varidauto, diz que o movimento se tem feito sentir "principalmente na venda de café e de outros produtos da loja de conveniência", mais até do que na venda de gasolina por causa dos pontos, onde apenas houve "um ligeiro aumento". "Preocupações só com o trânsito", relata o funcionário da BP já que além do invulgar número de viaturas parqueadas junto às bombas, formou-se uma longa fila de estacionamento ao longo da margem da Estrada Nacional 109 (Variante) onde as pessoas deixam os carros para ir tomar vez. César Garcia, um dos fãs que (des)espera na BP em Aveiro critica, no entanto, a forma como a distribuição dos bilhetes está organizada: "é um sistema pouco justo e civilizado. Não nos dão informações e há pessoas que vieram da Guarda para arranjar bilhetes. Podiam vender os bilhetes em todas as bombas da BP e não seria preciso as pessoas estarem aqui nestas condições". |